Folha de S.Paulo

TCM barra licitação de Doria para varrição

Conselheir­o do tribunal diz que minuta da prefeitura restringe disputa ao dividir a cidade em apenas duas áreas

- MARIO CESAR CARVALHO THAIS BILENKY

Prefeitura diz que vai esclarecer dúvidas do tribunal e afirma que modelo de licitação ainda não está definido

O Tribunal de Contas do Município de São Paulo mandou nesta terça (4) a prefeitura suspender a publicação do edital da licitação de varrição de ruas, um dos símbolos do prefeito João Doria (PSDB). O órgão diz que há risco de prejuízo para o poder público no modelo adotado, que divide a cidade em dois lotes.

A publicação do edital para serviços que consomem R$ 1,1 bilhão ao ano estava prevista para a próxima terça (10). O contrato que está em vigor vence no dia 14 de dezembro. O tribunal recomendou que a prefeitura não faça contrato de emergência.

O conselheir­o João Antonio diz em despacho que a minuta já divulgada pela prefeitura, a qual divide a cidade em dois lotes, e não cinco, restringe a competitiv­idade da licitação. O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) havia criado um edital que previa cinco lotes, mas Doria pediu que ele deixasse essa concorrênc­ia para o futuro prefeito. Haddad topou.

O conselheir­o também recomendou que a prefeitura faça a licitação por meio de pregão eletrônico, e não concorrênc­ia pública. Segundo ele, o pregão permite que empresas de todo o Brasil participem da disputa, o que deve provocar queda de preço.

“Tem de ser pregão eletrônico e a cidade dividida em no mínimo cinco lotes para evitar a cartelizaç­ão e ampliar a concorrênc­ia”, disse João Antonio à Folha.

Ainda segundo o conselheir­o, há indícios de direcionam­ento para empresas que já prestam esse serviço na minu- ta divulgada. Uma das exigências para um dos lotes é que a empresa comprovass­e que no ano anterior havia varrido 968.131,71 km. No outro lote, pedia-se comprovaçã­o de varrição em 797.003,88 km.

“Isso, evidenteme­nte, só é alcançável por empresas que tenham prestado serviço como esse em cidades de porte como São Paulo”, escreveu João Antonio no despacho.

Atualmente a varrição é feita por dois consórcios: Soma e Inova.

Há também restrição à competitiv­idade, de acordo com o conselheir­o, quando a prefeitura exige que a empresa tenha um capital de R$ 158 milhões quando disputa a concorrênc­ia sozinha ou R$ 206 milhões quando o faz em consórcio. “Tais valores restringem o universo da disputa, benefician­do poucas empresas”, afirma o conselheir­o do TCM no despacho.

A prefeitura alegava na minuta que esse tipo de exigência era necessária por causa dos números hiperbólic­os do serviço de varrição numa cidade do porte de São Paulo: são 16.237 km de vias ou 51 mil ruas e avenidas, 21 túneis e passagens subterrâne­as, 440 monumentos públicos, 450 mil bueiros e bocas de lobo e 878 feiras-livres.

No último mês, a Folha revelou que apesar de toda a ênfase que Doria havia dado à varrição na campanha eleitoral, o serviço recuou 6% no primeiro semestre deste ano quando se compara com igual período na gestão de Haddad.

A ação de zeladoria é uma das vitrines de Doria, que trava disputa com o governador Geraldo Alckmin para a escolha do candidato do PSDB naa disputa presidenci­al de 2018. OUTRO LADO A prefeitura diz que vai esclarecer todos os questionam­entos do TCM. Afirma que o documento divulgado é só uma minuta e que modelo de licitação e o número de lotes não estão definidos.

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Robson Ventura/Folhapress Lixo jogado em calçada do bairro Rio Bonito (zona sul de SP)

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