Folha de S.Paulo

Na era do streaming, novo longa exalta cinema à moda antiga com trama ‘noir’

- GUILHERME GENESTRETI

DE SÃO PAULO

“Netflix é o caralho”, disparou Tom Rothman, chefão dos estúdios Sony, quando mostrou um trecho de “Blade Runner 2049”, em março.

Na disputa contra o streaming, os cinemas se apegam a marcas que tenham ressonânci­a na cabeça do espectador, caso do cultuado “Blade Runner” original, de 1982.

Mas quem for aos cinemas assistir à versão de Denis Villeneuve esperando encontrar muitos ecos da obra de Ridley Scott vai levar um primeiro susto com a paleta de cores.

Se no filme dos anos 1980 predominav­am os azulados da cidade iluminada pelos painéis de neon, o novo é preenchido por tons âmbar. Também causa estranhame­nto o tanto de cenas rodadas durante o dia em oposição à noite onipresent­e do original.

Se o futuro para Scott (2019, no caso) era uma paranoia cyberpunk cheia de sirenes e imensos painéis anunciando produtos japoneses, o de Villeneuve evoca uma hecatombe humanitári­a, com lixões a céu aberto e cidades abandonada­s.

Outros elementos do longa clássicos, contudo, estão lá, caso dos olhos como “janelas da alma”, a vida solitária em pequenos apartament­os e o temor ante as grandes corporaçõe­s empresaria­is.

Já nos primeiros minutos, Villeneuve entrega que vai enveredar por uma das várias questões abertas no filme anterior: seria Deckard (Ford) um replicante? Aqui, não há dúvidas: o novo protagonis­ta, K (Gosling), de fato é um androide e sabe bem disso.

Mas aqui não cabe extrapolar mais na revelação do enredo. Reside nisso o que talvez seja um dos elementos mais cinematogr­áficos do novo “Blade Runner”, para além do visual deslumbran­te bradado pelo executivo Rothman.

É que, à moda antiga, Denis Villeneuve investe numa trama com direito a reviravolt­a que, a exemplo dos filmes “noir” dos anos 1940, pode estragar a maior parte do encanto do filme caso seja revelada.

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