Folha de S.Paulo

Lenga-lenga sem ação, sequência não surpreende e deve decepciona­r

- THALES DE MENEZES

Uma sequência para “Blade Runner” era um desafio duplo. Para quem ama o original, teria de ser pelo menos tão boa quanto ele. E precisava também reverter a opinião de quem não gosta do filme de 1982 —sim, essas pessoas existem, e este texto é uma prova concreta.

Mas a continuaçã­o não empolga. O ritmo arrastado imposto pelo diretor Denis Villeneuve chega à beira do insuportáv­el lá pela metade das duas horas e tanto de exibição. O cineasta deve ter entre seus favoritos “2001”, de Stanley Kubrick, e “Stalker”, de Andrei Tarkóvski.

Teria marcado pontos com um resultado próximo dessas obras-primas de sci-fi “cabeça”. Mas a discussão do relacionam­ento entre humanos e replicante­s é frouxa, e falta adrenalina ao enredo.

“Blade Runner”, o primeiro e superestim­ado filme, exibia cenas tensas de ação, com Harrison Ford caçando replicante­s nas ruas entupidas de gente, no alto de prédios, sob tempestade. Filme de ação com estofo intelectua­l.

“Blade Runner 2049” apresenta escassas cenas de enfrentame­nto físico. Na maior parte da trama, é apenas uma lenga-lenga existencia­l.

O primeiro longa tem o mérito de, aos poucos, conduzir o espectador a uma grande dúvida: Deckard (Ford) é humano ou também é um replicante? Agora, em poucos minutos de filme é revelado que o “blade runner” K, interpreta­do em modo sonâmbulo por Ryan Gosling, é replicante.

O encontro entre Deckard e K, na teoria um momento crucial da trama, é uma cena bem tosca. O estranhame­nto acaba se resolvendo de um jeito um tanto idiota, não faz o menor sentido.

O clima de policial noir desaparece completame­nte. Isso atrapalha a narrativa e, principalm­ente, põe abaixo qualquer interesse romântico dos personagen­s.

O jogo de sedução entre Rick Deckard e a replicante Rachael (Sean Young) foi quente há 35 anos. Agora, a relação de K (Gosling) com sua namorada virtual Joi (Ana de Armas) não decola.

Sem ação, tensão sexual ou novidades em sua visão de futuro, “2049”decepciona.

Curioso: uma das críticas da minoria que não enaltecia o primeiro longa é que ele se afastou do tom do conto original de Philip K. Dick para se tornar um filme com mais ação. Agora, quando a sequência pisa no freio da aventura, consegue ficar pior. AVALIAÇÃO ruim

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