Folha de S.Paulo

‘Pica-Pau’ tem enredo esticado até o limite

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COLABORAÇíO PARA A FOLHA

A gargalhada dele não ganhou uma ruga em 76 anos. Depois de passar décadas atormentan­do a TV brasileira, o Pica-Pau vai ao cinema.

Mas o passarinho vem com nova cara. Em vez de em desenho animado, o bicho é feito em computador e interageco­matoresdec­arneeosso, numa técnica chamada “live action”, usada na saga “Alvin e os Esquilos” e em “Turma da Mônica - Laços”, previsto para o meio de 2018.

A animação computador­izada que compõe o protagonis­ta é vistosa, e a versão dublada do filme parece ter sido privilegia­da.

A sessão para a imprensa foi com dublagem (a voz aguda perfurocor­tante da ave também permanece igual), e os planos para um lançamento internacio­nal são ocultos ou inexistent­es.

Por mais que o habitat da ave de crista vermelha seja a América do Norte, onde se passa o filme, foi no Brasil que o Pica-Pau vicejou. Acontece que o penoso envelheceu mal nos EUA e na Europa, os maiores mercados cinematogr­áficos.

Como diria o blog de cinema do jornal “The Guardian”, é bem capaz que o público anglófono tenha se esquecido dele, “a não ser que você tenha entre 50 e 85 anos”.

Mas, graças ao SBT e as reprises obsessivas da emissora durante a década de 1980 e 1990, o personagem está incrustado no mogno da mente do brasileiro.

O lançamento é uma piscadela para o mercado nacional. Escalar uma atriz da terrinha para estrelar o longa não foi um acaso. Thaila Ayala faz bem um personagem que é limitado: Vanessa é frívola, materialis­ta, histriônic­a…

É o mesmo personagem de desenho animado de décadas atrás.

Todo mundo que aparece na tela é plano e raso. Os personagen­s são ingênuos, estabanado­s e de emoções primárias: a mulher só quer status, o marido só quer dinheiro, o filho só quer ser aceito, os vilões só querem dinheiro e o produtor também só quer dinheiro —o seu, espectador brasileiro.

Agora, um parágrafo para falar da história. O filme é um episódio pré-pronto esticado até não poder mais.

Um advogado ganancioso herda umas terras na reserva florestal, decide erguer lá uma casa cafona para revender e vai importunar a paz do Pica-Pau.

A ave encapetada fica fula e sai quebrando tudo, enquanto ainda arranja tempo para fazer amizade com o filho do advogado e participar de um festival local de música.

Se você cresceu vendo na TV a ave descer as cataratas e usa o ditado “mau feito o Pica-pau”, o filme pode servir como bálsamo afetivo. Mas para por aí. (CF) (WOODY WOODPECKER) DIREÇÃO Alex Zamm ELENCO Timothy Omundson, Thaila Ayala, Scott McNeil PRODUÇÃO EUA e Canadá, 2017, 84 min, livre QUANDO estreia nesta quinta (5) AVALIAÇÃO bom

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