Mostra explica impacto das ideias do religioso hoje
DA ENVIADA ESPECIAL À ALEMANHA
Por que os americanos têm mania de carregar suas bebidas alcoólicas naqueles sacos de papel pardo? Comum em cidades dos Estados Unidos, o veto a beber álcool na rua, e até a predisposição a esconder garrafas que nem sequer abertas estão, teria a ver com as raízes de um país 50% protestante. Para um fiel, afinal, o ato de se embriagar não é de Deus.
A teoria das sacolas é uma das curiosidades contadas em “Der Luthereffekt” (o efeito Lutero). A mostra no museu Deutsches Historisches Museum, em Berlim, remonta a globalização do movimento iniciado meio milênio atrás por Martinho Lutero, o monge alemão que rompeu com a Igreja Católica e jogou a Europa em séculos de sangrentas guerras religiosas.
A partir de 1517, fortaleceuse no mundo cristão a ideia de que cada um que carregue sua cruz: o Vaticano não deveria monopolizar o poder (por meio do papa) nem a interpretação da Bíblia (então restrita ao latim). Esse marco zero da Reforma Protestante é fundamental para entender um mundo que hoje testemunha o milagre da multiplicação de templos evangélicos. ASCENSÃO A América Latina fica fora dos cinco países que a exposição elege para contar o avanço protestante no planeta: Alemanha, Suécia, EUA, Coreia do Sul e Tanzânia.
O afã cristão dos sul-coreanos pode surpreender. Quase 30% da população se declara seguidora de Jesus Cristo —protestantes são dois terços desse grupo.
No telão do museu, nada muito diferente do que se vê em templos brasileiros: um coral com robe de cetim canta sobre “preferir Jesus a casas e terras” após a pregação de um pastor de paletó e cabelo lambido por gel.
Na Suécia, a fusão entre Estado e Igreja Luterana se desfez em 2000. A Constituição sueca ainda prevê que o chefe de Estado (o rei ou a rainha) deve ser “de pura fé evangélica”.
Ex-colônia alemã, a Tanzânia abriga a segunda maior concentração de luteranos no mundo (mais de 6 milhões).
A parte histórica da exposição, que vai até 5 de novembro, é farta —assim como a variedade de souvenires à venda na loja do museu, da forma de pão com a silhueta de Lutero ao boneco Playmobil inspirado no monge. (AVB)