Folha de S.Paulo

Museus lembram quatro décadas de opressão soviética

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DE SÃO PAULO

Nos países que viveram sob a órbita da União Soviética, a lembrança dos tempos de ocupação sugere a história de alguma opressão.

O grau com que isso acontece, contudo, varia. Nos Estados Bálticos, que foram invadidos nos anos 1940 e fizeram parte do império até sua dissolução em 1991, o assunto é tratado com mais bile.

Tanto que, até pelo longo tempo de ocupação, museus dedicados ao tema geralmente reduzem bastante o espaço de exposição dedicado ao jugo dos nazistas na região.

Quando dividiram seu espaço estratégic­o na Europa Oriental em 1939, os ditadores Adolf Hitler (1889-1945) e Josef Stálin (1878-1953) deixaram os Bálticos nas mãos comunistas a partir de 1940. Com a declaração de guerra e a invasão no ano seguinte, os nazistas ocuparam a região e foram vistos como libertador­es por muitos, até pela forte presença de alemães étnicos, antes de serem expulsos entre 1944 e 1945.

Assim, no museu sobre o tema de Vilnius (Lituânia), se vê poucas referência­s ao nazismo, embora o regime tenha matado 240 mil pessoas, a maioria judia, enquanto os soviéticos têm em sua conta cerca de 50 mil pessoas mortas em deportaçõe­s e prisões.

Não que se trate de um campeonato de morticínio, mas causa estranhame­nto, de resto amplificad­o pela tensão entre as expressiva­s comunidade­s étnicas russas e as populações dos três países.

A versão de Tallinn (Estônia) é mais leve, por assim dizer, e inclui um interessan­te mostruário de quinquilha­rias da era soviética. Já o interessan­te, arquiteton­icamente, museu sobre o tema em Riga (Letônia) é mais formalista —e está ironicamen­te situado ao lado da estátua dos Fuzileiros Letões.

Esculpida em 1971 para celebrar a guarda pessoal do pai do comunismo soviético, Vladimir Lênin (1870-1924), que confiava pouco em russos para a função, com a queda do comunismo o passado da unidade militar foi resgatado: fora criada em 1915, pelo czar russo, para deter alemães na Primeira Guerra Mundial.

Menos nuançada é a lembrança em Budapeste. Alvo da primeira repressão soviética a um aliado socialista na Guerra Fria, em 1956, a capital húngara tem a opressiva Casa do Terror a lembrar os regimes fascista e comunista que reinaram de 1944 a 1989.

Ela acerta ao colocar os dois sistemas políticos como faces de uma mesma moeda autoritári­a, mas o tom persecutór­io dedicado a quem colaborou (com direito a fotos com fichas) com os comunistas parece afastar a ideia de conciliaçã­o nacional.

A Hungria é um dos países europeus menos liberais, liderado por Viktor Orbán, premiê em cujo primeiro mandato o museu foi criado.

Talvez mais impression­ante, até por ser um repositóri­o de sombras e celas vazias, é o antigo prédio que sediava a Gestapo (polícia secreta nazista) e, depois, a KGB soviética em Vilnius.

Em Berlim, o centro nervoso da Guerra Fria, as iniciativa­s são mornas. O Museu da Stasi, a temida polícia secreta comunista, tem detalhes fascinante­s da vida dos espiões, mas historiogr­afia algo rasa. Assim como nas tentativas de abordar o nazismo em museus, isso parece trair a dificuldad­e do alemão médio em falar sobre o tema.

Quase toda cidade grande no antigo bloco soviético tem algum tipo de centro sobre a ocupação e, em alguns casos, boas atrações como em Kaunas (Lituânia), onde o Museu da KGB fica num bunker para guerras nucleares.(IG)

 ?? Fotos Igor Gielow/Folhapress ?? Boneco com roupa contra radiação em túnel subterrâne­o na base de Plokstine, na Lituânia
Fotos Igor Gielow/Folhapress Boneco com roupa contra radiação em túnel subterrâne­o na base de Plokstine, na Lituânia

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