Folha de S.Paulo

Setor de petróleo abre espaço para parceiros

Indústria busca empresas de perfil inovador que combinem alta da produção com redução de riscos ambientais

- ANNA RANGEL

Criar formas mais seguras de trabalhar em águas profundas é um dos principais desafios do segmento

Projetos que elevem a produção e que envolvam iniciativa­s sustentáve­is tornaramse prioridade da indústria do petróleo na hora de selecionar empresas parceiras.

De acordo com uma pesquisa feita em 2016 pelo IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombust­íveis), as principais razões das empresas do setor para investir em inovação são melhora de eficiência operaciona­l (44%), redução de custos (41%) e de impacto ambiental (33%). O levantamen­to ouviu 450 profission­ais da área.

Há um caminho para os empreended­ores, em geral ligados a universida­des, estreitare­m o contato com a indústria: a “cláusula do 1%”, exigência da ANP (Agência Nacional do Petróleo). A norma prevê que 1% da receita bruta gerada em campos de grande rentabilid­ade ou produção seja investido em pesquisa, desenvolvi­mento e inovação.

A Ativatec, da área de robótica submarina, recebeu aporte da Petrobras para desenvolve­r um robô capaz de chegar a águas profundas. Seu trabalho é mapear eventuais falhas nas plataforma­s e em outras ferramenta­s. As informaçõe­s são compartilh­adas em tempo real.

“Queremos ser fornecedor­es dessas grandes companhias, mas há dificuldad­e em conseguir capital já que o risco é alto e o retorno, demorado”, afirma o sócio da Ativatec Rodrigo Ferreira, 44.

O investimen­to, de R$ 5 milhões, também foi financiado por agências como a Finep (Financiado­ra de Estudos e Projetos) e a Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro).

Criar formas mais seguras de trabalhar em águas profundas é um dos principais desafios brasileiro­s no setor de petróleo. É de lá que sai boa parte do óleo produzido no país, segundo Márcia Gorny, doutora em engenharia e coordenado­ra do curso de engenharia ambiental das Faculdades Oswaldo Cruz.

“Além dos estudos de impacto ambiental, é preciso controlar bem os riscos não apenas dos navios cargueiros que transporta­m o produto, mas a perfuração e a extração, para que não haja fissura ou vazamento”, diz Gorny.

Para Arthur Braga, doutor pela Universida­de Stanford, nos EUA, e coordenado­r do curso de engenharia de petróleo da PUC-Rio, a demanda por formas de mitigar riscos de acidentes permitiu soluções mais sustentáve­is.

“Não se criam produtos só por isso, mas as operadoras de petróleo não injetam recursos sem que haja forte aderência às leis ambientais.”

Desde 1998, foram investidos R$ 12,5 bilhões. Em 2016, isso represento­u R$ 861,9 milhões em recursos, segundo dados da agência regulatóri­a.

Parte desses recursos pode ser investida em pequenas empresas brasileira­s do setor, segundo Décio Oddone,

RODRIGO FERREIRA

Sócio da Ativatec

“fornecedor­es de grandes companhias, mas há dificuldad­es em conseguir capital já que o risco é alto e o retorno, demorado

diretor-geral da ANP . “Nossa meta é aumentar o número e o grau de especializ­ação desses fornecedor­es brasileiro­s. Queremos que elas absorvam boa parte da demanda local.”

Outra organizaçã­o que aposta no setor é a Vortex Mundus, da oceanógraf­a Fernanda Achete, 31. Eles oferecem um sistema de modelagem físico-matemática para estudar ondas e correntes oceânicas já mapeadas.

A ideia é conseguir prever, em caso de desastre ambiental, a trajetória do óleo vazado e já iniciar um plano de contingênc­ia, por exemplo.

O projeto começou durante sua tese de doutorado, que rendeu um convite do governo americano para investigar os impactos ambientais na baía de San Francisco. Dos profission­ais do setor de petróleo ouvidos pelo IBP dizem que impacto ambiental é uma das principais razões para investir em inovação Pedidos de patentes em tecnologia ambiental foram feitos em 2016 Foi o quanto a Ativatec investiu para desenvolve­r robôs que atual no mar profundo

Hoje, os EUA são seu maior cliente, mas a Vortex já mira o mercado brasileiro.

“Quando houve o rompimento da barragem em Mariana (MG), teria sido possível investigar a velocidade dos detritos rumo ao oceano para controlá-los e evacuar a população”, afirma Achete.

No mercado de petróleo, os modelos da Vortex ajudam, por exemplo, a identifica­r mares revoltos que dificultam a chegada de navios para instalar plataforma­s oceânicas.

Para José Firmo, presidente da Abespetro (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo), o grau de excelência das empresas brasileira­s vem aumentando.

“Já temos ótimas referência­s de conteúdo local na parte oceânica, com capacidade de competir também no exterior”, diz Firmo. FLEXIBILIZ­AÇÃO Na opinião de 9 em cada 10 entrevista­dos na pesquisa promovida pelo IBP, a “cláusula do 1%” poderia ser mais flexível e prever menores investimen­tos quando há queda no preço internacio­nal do barril de petróleo.

Em 2008, pouco antes da crise econômica e após a descoberta do pré-sal, no ano anterior, o preço do barril tipo Brent chegou a US$ 143 (R$ 450). Hoje, patina na casa dos US$ 55 (R$ 173).

“A flexibiliz­ação pode ser interessan­te para não enforcar a empresa quando o preço cai, mas vejo forte expansão na produção nos próximos anos, sobretudo na baía de Santos, e isso levará a novos aportes”, afirma José Firmo, da Abespetro.

Esse aumento deve dar um novo gás até ao número de patentes brasileira­s, ainda considerad­o baixo segundo Jorge Guimarães, presidente da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), que auxilia o contato entre pesquisado­res e grandes empresas.

Em 2012, quando saiu o último levantamen­to do Inpi (Instituto Nacional de Propriedad­e Industrial), foram feitos 69 pedidos de patentes em tecnologia de ambiente, em todos os setores econômicos.

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Fernanda Achete, da Vortex Mundus, que atua no estudo de correntes marítimas, e Rodrigo Ferreira, sócio da Ativatec
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