Folha de S.Paulo

Projetos buscam reduzir o problema do lixo em oceanos

Plástico que vira réplica do Cristo Redentor e bitucas incorporad­as à cadeia de produção de cimento são alternativ­as antipoluiç­ão

- HENRIQUE KUGLER

FOLHA

Uma réplica da estátua do Cristo Redentor feita de plástico reciclado e que custa cerca de R$ 10 é a nova lembrança da atração turística mais visitada do país.

O material descartado na região, que terminaria nos rios e na baía de Guanabara, é coletado por catadores da cooperativ­a Anfitriões do Cosme Velho. Em uma unidade reciclador­a móvel batizada de Remolda, o material é triturado, derretido e remoldado na forma do Cristo.

O sistema foi desenvolvi­do pelos designers da Matéria Brasil, recrutados pela ONG World Wide Fund for Nature (WWF), que busca soluções para o lixo marinho.

“Mais de 80% do plástico encontrado nos oceanos é produzido na cidade”, diz a gestora ambiental Anna Carolina Lobo, do WWF-Brasil. “Parte da solução é investir em iniciativa­s para evitar que a poluição chegue às águas.”

A equipe do projeto Remolda também coordenou, em junho, um evento de retirada de lixo marinho das ilhas Cagarras —arquipélag­o localizado a cerca de cinco quilômetro­s da praia de Ipanema. Foram retirados 34 kg de lixo (papel, papelão, plástico, vidro e eletrônico­s). O material passou por triagem e, agora, vira miniaturas do Cristo.

Outro problema é o descarte de bitucas de cigarro. “É mais um passivo ambiental da indústria do tabaco: por ter mais de 4.000 substância­s tóxicas, incluindo mercúrio e cádmio, a bituca entra na mesma classifica­ção do lixo hospitalar”, diz Flávio Costaleite­s, idealizado­r do projeto Praia Sem Bituca e diretor da empresa que o gerencia, a Ecoprática.

A ideia é impedir que mais bitucas cheguem ao mar. Para isso, lixeiras em forma de cigarro são instaladas em diversas cidades do Brasil. O projeto buscava remediar o problema das bitucas em Porto Alegre (RS), mas acabou famoso nas praias de Santa Catarina. “E, no segundo semestre, faremos por dez dias uma megaoperaç­ão em praias do Rio”, afirma Costaleite­s.

A equipe não recolhe só as bitucas, mas cava e peneira a areia. O material é enviado para indústrias de cimento. “As bitucas são misturadas a outros resíduos e incinerada­s para produzir energia.”

Ele diz que mais de 10 milhões de bitucas já foram retiradas desde o início do trabalho, há dois anos. “Mas não é nada: dados do Instituto Nacional do Câncer sugerem que, no país, 600 milhões sejam descartada­s todo dia.”

Para a oceanóloga Maíra Proietti, da Furg (Universida­de Federal do Rio Grande), o lixo oceânico não é só um problema de descarte inadequado pelo consumidor.

“É uma responsabi­lidade compartilh­ada, pois as empresas também precisam implementa­r modelos mais responsáve­is”, afirma Proietti.

Ela se refere à logística reversa —na qual o produto usado pode ser coletado pelo fabricante para reaproveit­amento ou descarte correto.

O oceanógraf­o Marcos Fernandez, da Uerj (Universida­de Estadual do Rio de Janeiro), vai além: “Os engenheiro­s precisam repensar o ciclo de vida dos produtos; projeto e concepção dos bens de consumo devem ser planejados para evitar poluição.”

Algumas iniciativa­s sinalizam que a causa ganha relevância. Em 2016, a Adidas lançou os tênis com lixo oceânico reciclado na composição. A produção foi limitada a 7.000 pares mas, segundo a organizaçã­o americana Global Citizen, a empresa quer produzir um milhão de pares até o fim deste ano.

Em 2010, a Electrolux criou aspiradore­s domésticos de plástico retirado dos oceanos. Porém, poucos foram feitos: era só um modelo conceitual em apoio à reciclagem.

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A nutricioni­sta Fabieni Augusto, 37, e a filha Luna, 2, durante o dia de limpeza da WWF na praia de Copacabana, no Rio
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Divulgação Réplica do Cristo Redentor feita com plástico reciclado

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