Cooperativa de quebradeiras vende óleo de babaçu para o mundo todo
Produto virou insumo para a indústria de cosméticos por suas propriedades hidratantes
Organizadas, as colhedoras do Maranhão transformam o ofício em atividade econômica viável
“A palmeira do babaçu é uma mãe que amamenta vários filhos. Dela, tudo se aproveita: fazemos óleo, azeite, sabão, sabonete, carvão, palha para cobrir as casas” diz Diocina dos Reis, a dona Dió, 64 anos, quebradeira de coco desde os sete.
Os babaçuais combinados com as pastagens são a paisagem dominante na região de Lago do Junco, no interior do Maranhão, a cerca de 300 km da capital, São Luís.
Foi nesta região que, nos últimos 30 anos, as quebradeiras de coco começaram a se organizar em uma cooperativa para transformar a coleta das sementes de babaçu em uma atividade economicamente viável, que compusesse a renda das famílias em uma região onde existem poucas alternativas além da agricultura de subsistência e da criação de animais.
A coleta e a quebra do coco babaçu é uma tarefa tradicionalmente executada por mulheres, que saem juntas para colher os frutos e depois fazem a quebra de modo ainda artesanal, com uma pedra e uma espécie de machadinha. Dentro de cada coco estão de quatro a cinco amêndoas, e delas se extrai o óleo, utilizado pela indústria de cosméticos pelas propriedades hidratantes e antioxidantes dos seus ácidos graxos.
Dona Dió foi uma das pioneiras do MIQCB, o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, que deu origem à Coppalj (Cooperativa dos Pequenos Produtores Agrícolas do Lago do Junco), fundada em 1990 e que hoje reúne 150 membros de 12 comunidades rurais.
No início, a luta era pelo direito de entrarem nas fazendas para coletarem os cocos –muitos fazendeiros barravam a entrada das quebradeiras nas propriedades, o que gerava conflitos violentos.
“Muitas apanhavam com vara de gado dos capatazes. A gente sofria no mato e depois chegava em casa e sofria agressão dos maridos. Mas a pior sensação do mundo é ver um filho não ter o que comer”, afirma dona Dió.
O ex-marido, um garimpeiro, não queria que ela se envolvesse com o movimento das quebradeiras de coco. Mas foi graças à renda do babaçu, mais o plantio de arroz, feijão e milho, que ela criou os três filhos –o mais velho chegou à universidade. Hoje vive da aposentadoria e da renda do babaçu. Não trabalha mais no roçado, mas quebra cinco quilos de coco por dia com a filha.
Com a formação da cooperativa, que teve ajuda da Igreja Católica, as quebradeiras passaram a lutar pela valorização da matéria prima e eliminação dos intermediários.
“Antes de se organizarem, elas precisavam quebrar 10 quilos de coco para comprar um quilo de arroz”, diz Valdener Miranda, diretor da Assema, associação que reúne assentados da reforma agrária no Maranhão e presta assistência técnica rural.
Em 1989, o valor pago era equivalente a US$ 0,04 pelo quilo da amêndoa –intermediários compravam as amêndoas das quebradeiras e os revendiam à indústria. Hoje, paga-se R$ 2,50 pelo quilo.