Folha de S.Paulo

Cooperativ­a de quebradeir­as vende óleo de babaçu para o mundo todo

Produto virou insumo para a indústria de cosméticos por suas propriedad­es hidratante­s

- ANDREA VIALLI

Organizada­s, as colhedoras do Maranhão transforma­m o ofício em atividade econômica viável

“A palmeira do babaçu é uma mãe que amamenta vários filhos. Dela, tudo se aproveita: fazemos óleo, azeite, sabão, sabonete, carvão, palha para cobrir as casas” diz Diocina dos Reis, a dona Dió, 64 anos, quebradeir­a de coco desde os sete.

Os babaçuais combinados com as pastagens são a paisagem dominante na região de Lago do Junco, no interior do Maranhão, a cerca de 300 km da capital, São Luís.

Foi nesta região que, nos últimos 30 anos, as quebradeir­as de coco começaram a se organizar em uma cooperativ­a para transforma­r a coleta das sementes de babaçu em uma atividade economicam­ente viável, que compusesse a renda das famílias em uma região onde existem poucas alternativ­as além da agricultur­a de subsistênc­ia e da criação de animais.

A coleta e a quebra do coco babaçu é uma tarefa tradiciona­lmente executada por mulheres, que saem juntas para colher os frutos e depois fazem a quebra de modo ainda artesanal, com uma pedra e uma espécie de machadinha. Dentro de cada coco estão de quatro a cinco amêndoas, e delas se extrai o óleo, utilizado pela indústria de cosméticos pelas propriedad­es hidratante­s e antioxidan­tes dos seus ácidos graxos.

Dona Dió foi uma das pioneiras do MIQCB, o Movimento Interestad­ual das Quebradeir­as de Coco Babaçu, que deu origem à Coppalj (Cooperativ­a dos Pequenos Produtores Agrícolas do Lago do Junco), fundada em 1990 e que hoje reúne 150 membros de 12 comunidade­s rurais.

No início, a luta era pelo direito de entrarem nas fazendas para coletarem os cocos –muitos fazendeiro­s barravam a entrada das quebradeir­as nas propriedad­es, o que gerava conflitos violentos.

“Muitas apanhavam com vara de gado dos capatazes. A gente sofria no mato e depois chegava em casa e sofria agressão dos maridos. Mas a pior sensação do mundo é ver um filho não ter o que comer”, afirma dona Dió.

O ex-marido, um garimpeiro, não queria que ela se envolvesse com o movimento das quebradeir­as de coco. Mas foi graças à renda do babaçu, mais o plantio de arroz, feijão e milho, que ela criou os três filhos –o mais velho chegou à universida­de. Hoje vive da aposentado­ria e da renda do babaçu. Não trabalha mais no roçado, mas quebra cinco quilos de coco por dia com a filha.

Com a formação da cooperativ­a, que teve ajuda da Igreja Católica, as quebradeir­as passaram a lutar pela valorizaçã­o da matéria prima e eliminação dos intermediá­rios.

“Antes de se organizare­m, elas precisavam quebrar 10 quilos de coco para comprar um quilo de arroz”, diz Valdener Miranda, diretor da Assema, associação que reúne assentados da reforma agrária no Maranhão e presta assistênci­a técnica rural.

Em 1989, o valor pago era equivalent­e a US$ 0,04 pelo quilo da amêndoa –intermediá­rios compravam as amêndoas das quebradeir­as e os revendiam à indústria. Hoje, paga-se R$ 2,50 pelo quilo.

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Amêndoas do babaçu são transforma­das em óleo na cooperativ­a dos pequenos produtores do Lago do Junco
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Fotos Divulgação Amêndoas de coqueiro de babaçu em cooperativ­a no MA

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