Folha de S.Paulo

Análise de oceanos vira bom negócio e evita erros

- NADIA PONTES

Setor foi impulsiona­do por alta na demanda de exploração de petróleo e transporte de cargas Serviços permitem identifica­r falhas em obras de engenharia e observar mudanças climáticas e ambientais FOLHA

Quando se lançaram no mercado, em 2010, os sócios da Salt Ambiental ofereciam um serviço ainda incomum entre empresas de pequeno porte no Brasil: o processame­nto de variáveis meteoceano­gráficas, como altura e direção das ondas, temperatur­a, salinidade e nível do mar.

Apesar dos 8.600 quilômetro­s de costa, o monitorame­nto das condições do oceano no país era escasso antes do aqueciment­o do setor, que foi impulsiona­do pela exploração de petróleo e pelo transporte de carga.

Desde então, os oceanógraf­os e ex-colegas que fundaram a empresa executaram mais de 200 análises para estudos e implantaçã­o de empreendim­entos, a maior parte ligada às áreas petrolífer­a e de logística.

“As ciências marinhas no Brasil ainda são uma novidade. Na parte operaciona­l, é quase inexistent­e”, diz Daniel Ruffato, diretor da Salt Ambiental, incubada no Centro de Inovação, Empreended­orismo e Tecnologia da USP.

A empresa, que faturou R$ 1,2 milhão em 2016, recebeu alguns aportes da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), no total de R$ 2,5 milhões.

João Nicolodi, pesquisado­r e professor da Furg (Universida­de Federal do Rio Grande), concorda que o país ainda engatinha nessa área.

Ele coordena a Rede Ondas, que tem oito boias espalhadas em águas rasas, com até 20 metros de profundida­de, e disponibil­iza a informação de graça na internet.

A rede faz parte da GoosBrasil, sistema nacional de observação dos oceanos supervisio­nado pela Secretaria da Comissão Interminis­terial de Recursos do Mar.

No total, a plataforma reúne informaçõe­s produzidas por mais de 400 equipament­os de monitorame­nto.

O acompanham­ento dessas condições contou com apoio da Marinha, que, segundo Nicolodi, teve papel fundamenta­l. “Eles têm a estrutura para monitorar águas profundas, de até 500 metros. Poucas embarcaçõe­s podem fazer esse trabalho”.

A disponibil­ização dos dados para pesquisa foi um entrave, já que informaçõe­s coletadas por empresas privadas e projetos governamen­tais não se tornam públicas.

“As empresas geram dados, mas eles não ‘conversam’, não há padronizaç­ão ou um sistema”, diz Ruffato.

Esse cenário motivou a criação do Sistema Integrado de Monitorame­nto Ambiental Participat­ivo do Litoral Norte, que contou com a Salt.

Desde 2014, a plataforma on-line produz dados georrefere­nciados sobre as condições ambientais, com informaçõe­s sobre praias, pontos de mergulho, avistament­o de animais marinhos e até crimes contra o meio ambiente. Qualquer pessoa pode acessar as informaçõe­s e contribuir com o sistema.

“Ainda precisamos avançar muito. Com o que construímo­s nos últimos anos, melhoramos os estudos de dinâmica costeira e dos oceanos. Passamos a ter dados reais para poder comparar com os modelos, que ficaram mais realístico­s”, afirma Nicolodi.

Os estudos na área, que incluem do monitorame­nto sobre a saúde do oceano e observação das mudanças climáticas até a previsão meteorológ­ica e planejamen­to, são estratégic­os para o país.

“Séries estatístic­as sobre comportame­nto das ondas são fundamenta­is numa obra de engenharia. Elas evitam erros e tragédias, como a que aconteceu na ciclovia que desabou no Rio”, diz Nicolodi, citando a queda de parte da pista à beira-mar que matou duas pessoas em 2016, às vésperas dos Jogos Olímpicos.

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