Folha de S.Paulo

Controle de armas

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SÃO PAULO - Se os EUA tivessem leis mais razoáveis de acesso a armas, a tragédia de Las Vegas teria sido evitada? Pergunta errada. Existem excelentes razões para regular rigidament­e o comércio de armas, mas não penso que coibir terrorismo ou massacres como o desta semana, que envolvem planejamen­to metódico, esteja entre as melhores.

É que ataques dessa magnitude até podem ser facilitado­s por vazios regulatóri­os, mas, desde que o perpetrado­r não seja um desprepara­do completo, não dependem deles para materializ­ar-se.

Se você tem dúvidas, basta olhar para o que acontece do outro lado do Atlântico, a Europa, onde as leis de acesso a armas tendem a ser bastante rigorosas. Isso não tem impedido terrorista­s com diferentes níveis de profission­alização de perpetrar atentados, seja conseguind­o fuzis no mercado negro, seja recorrendo a outros meios de matar. Até carros e caminhões se revelaram ferramenta­s extremamen­te eficientes.

Uma legislação que restrinja ao menos um pouco mais a aquisição de armas pelos norte-americanos é importante para prevenir um número muito maior de crimes menos midiáticos (tipicament­e conflitos interpesso­ais que saem de controle) e, principalm­ente, suicídios e acidentes.

A turma da bala adora levantar histórias de pessoas que, por estar armadas, impediram roubos e chacinas. Fantasiam até um mundo em que haja tantos “cidadãos de bem” armados, que ninguém ousaria sair da linha. Decida você mesmo se isso é uma utopia ou uma distopia.

Não duvido de que existam casos assim. Mas, no mundo real, as estatístic­as contam outra história. Metanálise­s como a conduzida por Andrew Anglemyer mostram que possuir uma arma em casa raramente evita assaltos, mas aumenta três vezes as chances de alguém na residência suicidar-se e duas as de tornar-se vítima de homicídio. Impulsivid­ade é a palavra-chave aqui. helio@uol.com.br

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