Folha de S.Paulo

Duas vezes deputada, defendeu causa feminista e irritou militares

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DE SÃO PAULO

Além de sua atuação no campo da produção teatral, Ruth Escobar é lembrada por sua participaç­ão política e pelo ativismo nos direitos sociais e das mulheres.

Participou do movimento de resistênci­a à ditadura e foi presa logo após a decretação do AI-5, em 1968.

Por intervençã­o da atriz Cacilda Becker e de Faria Lima, então prefeito de São Paulo, foi solta, mas seria levada à prisão outras duas duas vezes pelo regime militar.

Engrossou o coro contra o governo nos anos de chumbo, em especial entre 1974 e 1976, quando iniciou seus festivais internacio­nais de teatro.

Em 1977, ano em que produziu “Torre de Babel”, de Fernando Arrabal, foi novamente presa. Não se sabe ao certo o porquê, mas cogita-se que o motivo tenha sido a presença, na peça, de um burro chamado Ernesto, mesmo prenome do general Geisel, então presidente da República. MULHERES Em 1978, foi uma das fundadoras da Frente de Mulheres Feministas do Estado de São Paulo.

À época, Escobar havia entrado para o MDB (atual PMDB). No partido, foi uma das organizado­ras do PMDB Mulher, grupo que, ao lado de outros movimentos, foi responsáve­l pela criação dos primeiros conselhos pelo direito das mulheres no Estado de São Paulo.

Foi eleita duas vezes deputada estadual, cumprindo mandatos entre 1983 e 1987 e de 1987 a 1991, pelo PMDB e depois pelo PDT.

Irritava os militares com seu jeito irreverent­e e, em 1982, durante sua campanha à Câmara dos Deputados, chegou a ser enquadrada na Lei de Segurança Nacional por ofender o presidente João Batista Figueiredo.

Só foi julgada quatro anos mais tarde, e condenada a um ano de reclusão. Mas, como foi eleita, não chegou a cumprir pena por possuir, então, imunidade parlamenta­r.

Coordenou o primeiro Festival Nacional de Mulheres nas Artes, em 1982, evento que reuniu cerca de 10 mil participan­tes e que contou com mais de 600 espetáculo­s, além de palestras.

Em 1985, durante o governo Sarney, foi uma das idealizado­ras e a primeira presidente do CNDM (Conselho Nacional dos Direitos da Mulher), que buscava igualdade de gêneros na Nova República.

Foi eleita, por indicação do Ministério das Relações Exteriores, para um mandato de quatro anos (1986-1990) no Comitê pela Emancipaçã­o e pela Eliminação da Discrimina­ção Contra a Mulher (Cedaw, acrônimo da instiuição­em inglês) da ONU.

Em 1998, doou um terreno para a criação de A Criança e o Mar, instituiçã­o que abriga menores carentes, em Ubatumirim (SP).

Por sua contribuiç­ão à política e às artes cênicas, recebeu no Brasil a comenda da Ordem do Rio Branco e, em Portugal, o grau de Oficial da Ordem e do Mérito da Ordem do Dom Infante Henrique. Na França, recebeu a Ordem das Artes e das Letras e a Ordem Nacional da Legião da Honra.

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Ruth Toledo-5.mai.1997/Divulgação Ruth Escobar como Ilídia na peça ‘Torre de Babel’
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João Bittar-21.set.1987/Angular Ruth Escobar deixa a reunião do diretório, quando foi expulsa do PMDB, em 1987
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Divulgação A ativista e atriz com o escritor argentino Julio Cortázar, em foto sem data
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