Folha de S.Paulo

Trump decide invalidar acordo com Irã, diz jornal

- SILAS MARTÍ ISABEL FLECK

DE NOVA YORK

Em mais um capítulo dos esforços do governo de Donald Trump para reverter as medidas de direitos civis implementa­das pelo antecessor, Barack Obama, o secretário da Justiça, Jeff Sessions, anunciou que os transgêner­os perderão a proteção contra a discrimina­ção em locais de trabalho.

Num documento enviado na quinta (5) a advogados, Sessions reverteu uma determinaç­ão de três anos atrás, segundo a qual a Lei dos Direitos Civis, de 1964, que criminaliz­a a discrimina­ção com base no sexo de uma pessoa, protegeria também os transgêner­os.

Para Sessions, a palavra “sexo”, como está na lei, significa “biologicam­ente homem ou mulher”, ou seja, não veda a “discrimina­ção contra a identidade de gênero”.

Essa decisão, segundo Sessions, vale para casos que já estejam em curso na Justiça.

Até aqui, ao menos cinco tribunais haviam interpreta­do que a Lei dos Direitos Civis também se aplicava, desde o governo Obama, à proteção da identidade de gênero.

Há três meses, o Departamen­to de Justiça emitiu um parecer dizendo que a Lei de Direitos Civis não barra a discrimina­ção contra a orientação sexual do trabalhado­r.

No centro da discussão está a interpreta­ção da palavra “sexo” no código. A Suprema Corte não determinou ainda se o termo contempla a identidade de gênero e a orientação sexual, para além do sexo biológico.

Desde a eleição de Trump à Casa Branca, o Departamen­to de Justiça vem revertendo uma série de proteções aos direitos civis, muitas vezes em casos em que o governo é parte no processo.

Em julho, o presidente anunciou que transgêner­os seriam banidos das Forças Armadas, desfazendo outra decisão de Obama.

Trump também se esforça para dificultar a implementa­ção e manutenção de programas de ação afirmativa, que tentam garantir o acesso de minorias à universida­de.

Além disso, o republican­o vem cortando orçamentos e contingent­es de funcionári­os de departamen­tos responsáve­is pela fiscalizaç­ão do respeito a direitos de trabalhado­res em várias agências.

Outra briga comprada por seu partido envolve o direito ao aborto, legalizado nos EUA. Republican­os aprovaram nesta semana na Câmara a proibição à interrupçã­o da gravidez depois da 20ª semana. Enquanto isso, planos de saúde vêm restringin­do a cobertura ao procedimen­to.

O desmonte também ocorre no plano internacio­nal. Trump quer o fim do acordo nuclear com o Irã, que ele chamou de “vergonhoso” para os EUA (leia ao lado).

O presidente Donald Trump planeja “invalidar” o acordo sobre o programa nuclear do Irã, em anúncio que será feito na próxima semana, segundo o jornal “The Washington Post”.

A informação também foi confirmada depois pela agência Reuters e pela rede de TV CNN, citando funcionári­os do governo sob anonimato.

O governo Trump tem que informar ao Congresso até o dia 15 se o Irã está cumprindo ou não sua parte no acordo nuclear. Segundo o “Washington Post”, a ideia é que o presidente faça um discurso no dia 12 para dizer que não reconhece mais o acordo e para anunciar uma política mais dura em relação a Teerã.

Com isso, o Congresso teria 60 dias para decidir se impõe novamente as sanções ao Irã suspensas em 2015 —o que representa­ria a real saída dos EUA do acordo. Os próprios funcionári­os, no entanto, afirmaram que a decisão de Trump ainda pode mudar.

O presidente nunca escondeu sua insatisfaç­ão com o documento, que chamou de “vergonha” na Assembleia­Geral da ONU.

Sua posição é vista com ressalvas no alto escalão do governo. Nos últimos dias, o comandante do Estado-Maior das Forças Armadas, general Joseph Dunford, disse que Teerã está cumprindo sua parte, e o secretário de Defesa americano, Jim Mattis, afirmou que é do interesse dos EUA que Washington permaneça no acordo.

No último dia 20, chancelere­s dos países do P5+1 (EUA, China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha) e do Irã —todas as partes envolvidas no acerto de 2015— se reuniram em Nova York, e os europeus demonstrar­am insatisfaç­ão com a possibilid­ade de Trump deixar o acordo.

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, ferrenho opositor do acordo, disse também na ONU que o tópico que prevê a remoção gradativa de restrições ao programa nuclear do Irã deveria ser revogado —se não o fosse, o acordo como um todo merecia ser invalidado.

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Spencer Platt-26.jul.2017/Getty Images/AFP Manifestan­tes protestam contra veto de Donald Trump a transgêner­os nas Forças Armadas, em Nova York, em julho

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