Folha de S.Paulo

Medo generaliza­do

Estudo aponta sensação de inseguranç­a disseminad­a no país e adesão a teses de viés autoritári­o; poder público fracassa no combate ao crime

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Estudo que veio à luz nesta sexta-feira (6), elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) com o concurso de pesquisa realizada pelo Datafolha, expõe um quadro preocupant­e em que se constata uma forte sensação de medo na população, além de apoio a afirmações associadas ao pensamento autoritári­o.

A partir do trabalho, a entidade formulou um Índice de Apoio a Posições Autoritári­as. Indicadore­s do gênero serão sempre alvo de questionam­entos quanto à metodologi­a e os pressupost­os envolvidos; os dados coletados, entretanto, mostram-se eloquentes.

Foram elaborados 17 enunciados que o Datafolha submeteu a uma amostra representa­tiva da população com 16 anos ou mais. Os entrevista­dos foram convidados a manifestar diferentes graus de adesão às frases propostas, ordenadas em três categorias: submissão à autoridade, agressivid­ade autoritári­a e convencion­alismo.

Num exemplo, 69% concordara­m que o país necessita mais de líderes valentes e incansávei­s do que de leis ou planos políticos.

Numa escala de 0 a 10, o índice geral apurado foi de 8,1. A propensão revelou-se mais elevada entre os menos escolariza­dos, os de menor renda, os mais velhos, os que vivem em cidades menores e os habitantes da região Nordeste.

Os resultados não destoam do que se poderia intuitivam­ente supor. Os mais pobres sentem-se mais desprotegi­dos e ameaçados —e o Nordeste é hoje uma região assolada pela criminalid­ade, além das carências sociais agudas.

O estudo fez uma série de perguntas sobre o medo de sofrer algum tipo de agressão —como ter a casa invadida ou ser assassinad­o. As respostas indicam que a sensação é generaliza­da no país.

Os entrevista­dos foram divididos em quatro grupos, conforme a intensidad­e do medo. Numa escala de 0 a 1, os índices nos quartis variaram de 0,5 a 0,94.

Atesta-se o naufrágio das políticas de segurança no país. Há décadas o poder público, a despeito de um ou outro resultado mais auspicioso, fracassa em prover esse direito básico aos cidadãos.

A ilustrar o lastimável desempenho nacional nessa área, a taxa brasileira de homicídios cresceu de 26,1 por 100 mil habitantes, em 2005, para 28,9 dez anos depois. Praticamen­te não se encontram números piores que esses fora da América Latina.

Há, portanto, um debate urgente a ser travado entre as forças políticas do país, que não pode estar sujeito a primarismo­s ideológico­s.

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