Folha de S.Paulo

Em busca do ouro olímpico

-

RIO DE JANEIRO - Carlos Arthur Nuzman, 75, passou 22 anos como presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. Não tinha salário direto. Entre 2006 e 2016, a Receita Federal, no entanto, apontou que teve cresciment­o patrimonia­l de 457%.

Até ser preso, Nuzman morava em uma das 150 mansões do Jardim Pernambuco, o ponto mais nobre do Rio. Declarou à Receita Federal patrimônio de R$ 7 milhões, que só comprariam um terço da casa vizinha que está à venda na rua Leôncio Corrêa.

Depois da deflagraçã­o de operação da PF, tratou de enviar retificaçõ­es de sua declaração. Relatava que mantinha em casa o equivalent­e a meio milhão de reais em moedas estrangeir­as, referentes a “sobras de viagens”.

Ex-atleta olímpico, Nuzman só chegou ao ouro em julho de 2014, data em que admitiu ter comprado 16 quilos do metal em barras. Trancafiou-as em um cofre suíço. Atribuiu o valor de R$ 1,5 milhão às peças, “adquiridas com recursos próprios”, assinalou à Receita.

O Ministério Público apreendeu uma chave e cartões da empresa suíça (Ports Francs) que disponibil­iza cofres para a guarda de bens. É a mesma empresa utilizada por Sérgio Cabral para ocultar diamantes. Ao contrário de bancos, essas empresas não são obrigadas a questionar ou informar a origem dos recursos e bens que mantêm nos cofres.

As investigaç­ões se direcionam agora para suspeita de que Nuzman tenha recebido dinheiro em contratos estabeleci­dos pelo COB com um hotel, uma empresa de ônibus e uma empresa de marketing.

Em 2009, Nuzman estava presente no restaurant­e do chefe Alain Ducasse, em Mônaco, quando parceiros de negócios escusos de Sérgio Cabral foram fotografad­os com guardanapo­s na cabeça. Elegante como é, tratou de manter-se longe do alcance das lentes e de fazer uso ortodoxo dos guardanapo­s. O que não significou que tivesse mantido a compostura. ANDRÉ SINGER avsinger@usp.br

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil