Folha de S.Paulo

Um foro de afago

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BRASÍLIA - No dia 1º de junho, o ministro Moreira Franco (Secretaria­Geral da Presidênci­a) divulgou nas redes sociais um vídeo em que se defendia do que chamou de “equívoco, erro, injustiça”. Sofria ataques e resolveu querelar. O presidente Michel Temer reeditara na véspera uma medida provisória para organizar a estrutura da Presidênci­a da República e de ministério­s —um eufemismo para o que ficou conhecido como a “MP do gato angorá”.

A reedição foi necessária porque o dispositiv­o original caducou. Em meio ao abalo sísmico da delação premiada da JBS, o Palácio do Planalto não teve força política para aprovar o texto no Congresso.

Foi em fevereiro deste ano que o presidente Temer assinou a primeira medida provisória garantindo foro privilegia­do ao amigo Moreira Franco. O ato tornou-se ainda mais impudico porque ocorreu na mesma semana em que o STF homologou as 77 delações da Odebrechet.

Moreira —batizado pela empreitei- ra de gato angorá— foi citado 34 vezes na colaboraçã­o do ex-executivo Cláudio Melo Filho. A acusação foi de receber vantagens indevidas —e, depois dessa, vieram muitas outras.

“O foro privilegia­do não é do Moreira Franco, não é de nenhum ministro. É do ministério”, disse o ministro no vídeo. “Infelizmen­te, não posso abrir mão do foro privilegia­do para o secretário-geral da Presidênci­a da República porque não é individual, é do cargo, e eu não tenho comando sobre o cargo. Só o Congresso Nacional é que pode fazer isso.”

Nesta semana, sob críticas de um grupo de senadores, a Casa revisora validou a medida provisória 782, que já havia sido aprovada pela Câmara, em votação apertadíss­ima. “A ausência de escrúpulo choca, é mais uma ação do governo, ou desgoverno, que afronta a inteligênc­ia nacional”, protestou da tribuna o senador Álvaro Dias (Pode-PR).

No STF, há quatro Ações Diretas de Inconstitu­cionalidad­e que questionam o afago do Planalto ao gato.

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