Folha de S.Paulo

A agência de notícias Reuters lhe pediu que comentasse a premiação, no contexto

-

A Campanha Internacio­nal para Abolir Armas Nucleares (Ican) recebeu na sexta-feira (6) o Prêmio Nobel da Paz. A coalizão da sociedade civil promove a implementa­ção do tratado internacio­nal que proíbe esses armamentos. Há 468 organizaçõ­es envolvidas em 101 países diferentes.

O anúncio coincide com a crescente preocupaçã­o em relação ao programa nuclear da Coreia do Norte, a que o governo americano tem respondido sistematic­amente com ameaças belicosas.

Também se insere no contexto de um possível recuo americano na ratificaçã­o do acordo nuclear com o Irã, por orientação de Donald Trump.

Berit Reiss-Andersen, líder do comitê do Nobel, afirmou que o prêmio foi atribuído como reconhecim­ento ao fato de o trabalho da aliança “atrair atenção às consequênc­ias humanitári­as catastrófi­cas do uso de toda arma nuclear”.

Os esforços internacio­nais contra armamentos nucleares eram favoritos à láurea — ao menos nos rankings das casas de apostas. Mas se esperava que ela fosse entregue ao chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, e à chefe de política externa europeia, Federica Mogherini.

A dupla esteve por trás do acordo nuclear internacio­nal com o Irã —hoje criticado por Donald Trump.

Em 2017, o comitê do Nobel da Paz recebeu 318 indicações: 215 de indivíduos e 103 de organizaçõ­es. A relação é mantida em segredo durante 50 anos.

A Ican foi em parte responsáve­l pela instituiçã­o do Tratado sobre a Proibição de Ar- mas Nucleares. Estabeleci­da em 2007, na Austrália, e hoje com sede na Suíça, a campanha é liderada por Beatrice Fihn. Uma de suas inspiraçõe­s foi a mobilizaçã­o que

BEATRICE FIHN

líder da Campanha Internacio­nal para Abolir Armas Nucleares, coalizão de 468 organizaçõ­es cujo trabalho foi reconhecid­o com o Prêmio Nobel da Paz nesta sexta (6) levou à proibição do uso das minas terrestres, em 1997.

Fihn afirmou ter recebido um telefonema minutos antes do anúncio do prêmio e ter pensado que se tratava de um trote. O troféu, disse ela, “envia a todos os Estados com armas nucleares a mensagem de que se trata de algo inaceitáve­l”.

“Não podemos ameaçar matar centenas de milhares de civis em nome da segurança, e ainda mais de forma indiscrimi­nada. Não é assim que se constrói a segurança”, disse ela. ILEGALIDAD­E das disputas nucleares entre EUA e Coreia do Norte.

“Armas nucleares são ilegais. Ameaçar usá-las é ilegal. Ter armas nucleares é ilegal, e [os países que as possuem e se dizem prontos a lançá-las] precisam parar.”

Uma semana antes, em um comentário publicado em uma rede social, Fihn havia chamado o presidente americano de “idiota”.

O orçamento anual do Ican gira em torno de US$ 1 milhão (R$ 3,1 milhão), quase o equivalent­e à recompensa oferecida pelo próprio Nobel, de US$ 1,1 milhão (R$ 3,4 milhões).

O completo desarmamen­to nuclear do mundo é hoje um objetivo distante. Estimativa­s

Não podemos ameaçar matar centenas de milhares de civis em nome da segurança. Não é assim que se constrói a segurança

 ?? Fabrice Coffrini/AFP ?? A diretora-executiva da Ican, Beatrice Fihn (à esq.), celebra o Nobel com Grethe Ostern, do comitê gestor, em Genebra
Fabrice Coffrini/AFP A diretora-executiva da Ican, Beatrice Fihn (à esq.), celebra o Nobel com Grethe Ostern, do comitê gestor, em Genebra

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil