Indicam haver atualmente cerca de 15 mil dessas ogivas.
ACORDO BOICOTADO O Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares foi estabelecido em julho deste ano nas Nações Unidas, apesar do boicote das nove potências nucleares do mundo —Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França, Índia e Paquistão, Israel e Coreia do Norte.
O texto foi apoiado por 122 países após meses de negociações. Em 20 de setembro, o presidente Michel Temer foi um dos signatários da peça. Três países já a ratificaram: Guiana, Tailândia e o Vaticano.
DE SÃO PAULO
Cristian Wittmann, 34, único brasileiro a participar do comitê gestor da Ican (Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares), afirma que o prêmio Nobel da Paz para a organização e o tratado internacional que proíbe armamentos nucleares tiveram sucesso em mobilizar a opinião pública e mudar o paradigma de que há nações que podem possuir esse tipo de arsenal e outras que não.
“Desde a Guerra Fria, fomos educados a aceitar que há alguns países bons o suficiente para ter armas nucleares, e outros, não”, diz ele, que é professor da Universidade Federal do Pampa (RS) e atua desde 2004 na área de desarmamento humanitário. “Mas não existem ‘mãos limpas’ para ter essas armas.”
Wittmann diz que a mudança de paradigma que resultou no reconhecimento do impacto humanitário das bombas nucleares foi a maior dificuldade da campanha.
“As armas nucleares foram as últimas armas de destruição em massa a se tornarem ilegais”, afirma ele, para quem a mobilização da sociedade civil e a aprovação do tratado internacional tiveram sucesso em reativar o debate.
“Os países [que têm essas armas] não podem mais nos ignorar”, diz ele, que avalia que o processo de eliminação dessas armas será longo.
O especialista diz que o regime de não-proliferação, que vigorou até a assinatura do recente tratado internacional, acabava por estimular mais países a ter armamentos nucleares. “O fato de algumas nações não abrirem mão das bombas acabou levando outras a ter esse tipo de arma.”
O brasileiro conta que foi acordado pela ligação de um colega contando sobre o Nobel da Paz. Como seus companheiros estão espalhados por vários países, ele diz que a celebração aconteceu em grupos de mensagens e pelas redes sociais. “É um dia inesquecível.”
Wittmann representa a Rede Latinoamericana de Segurança Humana no comitê gestor da Ican desde 2014.