Folha de S.Paulo

Economista­s elevam projeção de inflação

Revisão é pequena, mas, se for confirmada, o valor final vai evitar que BC tenha de explicar a queda do indicador

- FLAVIA LIMA

Taxa em setembro foi o dobro da esperada; no acumulado do ano, porém, é a menor para o período desde 1998

A inflação de setembro surpreende­u. Subiu 0,16%, influencia­da pela pressão dos combustíve­is sobre o setor de transporte­s. Os economista­s esperavam a metade disso.

A tênue mudança de rumo fez com que uma leva de analistas revisasse levemente para cima as projeções para o indicador no ano. Já se estima que pode chegar a 3%. Em 12 meses, encerrado em setembro, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) tem alta de 2,54%

De janeiro a setembro, porém, a inflação acumulada ainda impression­a pelo patamar baixo: está em 1,78%, a menor taxa desde 1998 para os nove primeiros meses.

Hoje, a meta de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

Uma inflação de 3% no ano não preocupa e resolveria o inusitado problema de o Banco Central ter de se explicar. Pelas regras, o presidente da instituiçã­o, Ilan Goldfajn, teria de escrever, pela primeira vez na história, uma carta justifican­do a inflação abaixo do piso da meta.

De acordo com os analistas, os preços um pouco acima do esperado não têm força para alterar as projeções para os juros, que devem encerrar o ano em 7% —um recorde histórico.

Embora o número de setembro tenha colocado fim a um ciclo de mais de um ano de desacelera­ção de preços no acumulado de 12 meses, a economia em recuperaçã­o gradual e o fraco mercado de trabalho continuam a contrisil, também revisou a inflação do ano de 2,9% para 3%.

Segundo ele, os dados de setembro sinalizam que o processo de deflação de alimentos deve se encerrar em outubro, após cinco meses consecutiv­os de queda.

“Isso não quer dizer que a inflação vai subir muito, mas que o seu piso ficou pra trás e, daqui pra frente, vai se normalizar”, diz Ramos.

Os alimentos acumulam queda superior a 5% no ano e foram cruciais para a desacelera­ção da inflação cheia.

Com a reação dos alimentos, afirma Ramos, diminuem as chances de os juros caírem abaixo de 7%.

Não é, no entanto, o que pensam Bradesco e Itaú.

O Bradesco prevê o IPCA em 3% neste ano e 3,9% no ano que vem. Com isso, a Selic deve chegar a 6,75% em fevereiro de 2018.

Já o Itaú espera uma Selic ainda mais baixa, em 6,5% em fevereiro.

Felipe Salles, do Itaú Unibanco, lembra que, a inflação de setembro não assusta porque não foi espalhada.

Do 0,06 ponto acima do esperado, só o gás de botijão respondeu por metade disso.

“Não é nada generaliza­do”, diz. “O pessoal estava acostumado a ser surpreendi­do para baixo e estranhou.”

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Ueslei Marcelino - 26.set.2017/Reuters Ilan Goldfajn, presidente do BC, que acompanha o IPCA

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