Game on-line transformará alunos em prefeito por um dia
DE SÃO PAULO
Se fosse prefeito de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, o professor José Aparecido da Silva, 45, investiria em transporte. Ao mesmo tempo, faria mais escolas para diminuir a fila da creche. “Mas acho que já ia ter acabado todo o dinheiro só de investir na mobilidade. Levamos duas horas de um lado ao outro da cidade.”
O raciocínio sobre gestão pública, geralmente distante da sala de aula, foi um desafio até para os professores interessados em aproximar a discussão dos alunos do ensino médio. Em grupos, docentes tentavam discutir entre si políticas públicas para o município que contemplassem ao mesmo tempo três parâmetros: finanças em dia, aprovação da população e investimento em infraestrutura.
As regras fazem parte do game on-line Cidade em Jogo, lançado em agosto pela Fundação Brava, ONG voltada a melhorar a gestão público, em parceria com o Brazil Institute do Wilson Center, centro internacional de estudos acadêmicos ligado ao governo dos Estados Unidos.
O game leva para dentro das salas de aula a proposta de transformar os alunos em prefeitos por um dia. A expe- riência já foi levada a 500 alunos de instituições públicas e privadas em 13 Estados.
Nesta sexta (6), foi a vez de cerca de cem docentes da rede estadual de Guarulhos serem capacitados para a dinâmica. A ação faz parte do protocolo de intenções assinado entre a secretaria estadual de Educação e a fundação para disseminar o jogo no ensino.
A proposta do encontro, segundo a gerente de projetos da Fundação Brava, Ana Dal Fabbro, foi incentivar os coordenadores pedagógicos a inserirem a gestão pública no dia a dia da sala de aula.
“Por causa da ditadura militar, as aulas cívicas passaram a ser vistas como um retrocesso. O jogo vem para desmistificar isso e colocar o professor como protagonista.”
Baixado de forma gratuita e on-line, o Cidade em Jogo tem sido usado pelos alunos sempre em grupos para estimular o debate e a busca pelo consenso. Dividido em quatro fases, o jogo dura em média 30 minutos, o tempo médio de uma aula.
Primeiro, o aluno escolhe três áreas que terão prioridade em sua gestão. Em seguida, analisa as políticas públicas disponíveis e as aplica. A última etapa consiste em avaliar os impactos de suas escolhas. Para isso, o sistema gera um relatório parecido com uma notícia de jornal, em que a manchete dá o tom se a administração foi bem avaliada. CONSEQUÊNCIAS Além de oferecer a possibilidade de lidar com o orçamento de uma cidade, a plataforma dá ao jogador a chance de se deparar com as consequências de possíveis más escolhas. Ao relegar, por exemplo, obras de saneamento, o prefeito da vez será surpreendido por uma epidemia de dengue na cidade.
“Não há certo e errado. Apenas análise de indicadores que dão a dimensão do que é melhor ou não para a população”, diz o coordenador de projetos da Fundação Brava, Henrique Krigner.
Em uma escola particular em Cotia, na Grande São Paulo, onde o jogo foi usado em sala de aula, os alunos tiveram a chance também de simular um julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) a respeito da aplicação de cotas raciais na seleção para a Universidade de Brasília.
A classe foi dividida entre grupos favoráveis e contrários à proposta e espectadores. Apesar de estar sendo aplicado nas escolas, o game on-line Cidade em Jogo pode ser acessado por qualquer interessado pela internet —no endereço cidadeemjogo.org.br.