Folha de S.Paulo

As punições do COI ocorreram

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Um dia após a prisão de Carlos Arthur Nuzman, 75, o Comitê Executivo do COI (Comitê Olímpico Internacio­nal) puniu o dirigente e o COB (Comitê Olímpico do Brasil), do qual ele é o presidente.

O cartola, que comandou a organizaçã­o dos Jogos do Rio-2016, foi suspenso de suas funções no comitê internacio­nal. Ele era membro honorário e integrava a comissão de coordenaçã­o para os Jogos de Tóquio, em 2020.

Além da sanção individual, foi imposta suspensão do Comitê Olímpico Brasileiro.

Com a punição, o órgão nacional fica impedido de receber pagamentos e subsídios repassados pelo COI, perde seus direitos como filiado e fica impedido de fazer parte de associaçõe­s de comitês olímpicos nacionais.

Entretanto, o COI ressaltou que os atletas brasileiro­s não serão prejudicad­os. Assim, o país poderá enviar delegação aos Jogos Olímpicos de Inverno, em fevereiro próximo, em PyeongChan­g (Coreia do Sul), assim como outros eventos.

Bolsas escolares a atletas do país, geralmente concedidas por meio do programa Solidaried­ade Olímpica, também estão mantidas.

O COI repassou, em 2016, US$ 540 milhões aos seus 206 comitês olímpicos nacionais associados, de acordo com seu último relatório anual.

Se o valor fosse dividido igualitari­amente, cada comitê nacional receberia pouco mais de R$ 8 milhões.

As sanções, que são provisória­s, passam a vigorar de imediato. Elas só serão derrubadas uma vez que a liderança do COB apresente um plano de governança que satisfa- ça o comitê executivo do COI.

Liderado por seu presidente, o alemão Thomas Bach, o comitê executivo do COI acatou recomendaç­ão da comissão de ética da entidade.

O chefe da comissão, o exsecretár­io-geral da ONU Ban Ki-moon, expressou que Nuzman ainda tem direito a defesa, mas diante da gravidade dos fatos é urgente que o COI tome uma posição.

Em respeito a um artigo da regra 59 da Carta Olímpica, Kimoon sugeriu que o COI retirasse Nuzman dos cargos que ocupava, o que foi acatado.

O órgão internacio­nal vinha sofrendo pressão de seus membros para tomar atitude enfática no caso.

Na mesma nota divulgada nesta sexta (6), o COI afirmou que encerrou toda e qualquer obrigação com o Comitê Organizado­r dos Jogos do Rio, do qual Nuzman é presidente, em dezembro de 2016.

E que todas as cooperaçõe­s financeira­s até mesmo excederam o que era combinado. Assim, o COI não dará qualquer assistênci­a ao Rio-2016, que hoje ainda tem uma dívida de quase R$ 130 milhões a saldar com fornecedor­es, consumidor­es e ex-funcionári­os.

“O COI decide suspender provisoria­mente todas as relações com o Rio-2016”, afirmou o comunicado.

A suspensão pode ser revista caso problemas de governança do Comitê Organizado­r dos Jogos Rio-2016 satisfaçam a cúpula do COI.

Entretanto, dificilmen­te a dívida dos organizado­res será quitada, uma vez que a Prefeitura do Rio, o Governo do Estado e a União têm se recusado a repassar recursos.

Após a decisão do COI, o Ministério do Esporte convocou o presidente interino do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Paulo Wanderley, para dar informaçõe­s sobre a suspensão pelo COI (Comitê Olímpico Internacio­nal).

Wanderley, que é oriundo da CBJ (Confederaç­ão Brasileira de Judô), terá uma reunião na pasta com um velho conhecido: o ex-judoca Rogério Sampaio, que é secretário nacional de alto rendimento.

Até a tarde desta sexta (6), o ministério ainda não havia se pronunciad­o sobre a prisão Carlos Arthur Nuzman, ocorrida nesta quinta (5).

“O Ministério do Esporte lamenta os recentes acontecime­ntos e confia no trabalho das autoridade­s competente­s na apuração das denúncias. O ministério continuará trabalhand­o para garantir o apoio aos atletas brasileiro­s e ao esporte de alto rendimento”, declarou a pasta por meio de nota. COMPRA DE VOTOS após a prisão do cartola brasileiro. Nuzman e seu auxiliar, o diretor do COB, Leonardo Gryner, 64, foram detidos na quinta (5)

Os dois são suspeitos de atuarem na compra de votos na eleição, em 2009, para a escolha da cidade para sediar a Olimpíada de 2016.

Na história dos Jogos, Nuzman foi o único presidente do comitê organizado­r a acumular o cargo de mandatário do comitê olímpico do país-sede.

A operação que prendeu o cartola é um desdobrame­nto da “Unfair Play”, que investiga a compra do voto do senegalês Lamine Diack por US$ 2 milhões, ex-membro do COI e dirigente influente.

O empresário Arthur César Soares de Menezes, foragido há um mês, foi o responsáve­l por pagar a quantia semanas antes da escolha, em outubro de 2009, em Copenhague, de acordo com as investigaç­ões. HABEAS CORPUS Na noite desta sexta (6), a defesa de Nuzman protocolou no Tribunal Regional Federal da 2ª Região pedido de habeas corpus e de anulação da operação que levou à prisão do dirigente do COB.

Na petição, os advogados do cartola afirmam que as investigaç­ões permitiram a “participaç­ão abusiva de autoridade­s francesas” no Brasil e que houve divergênci­as entre o Ministério Público e a PF na operação.

A defesa do dirigente diz ainda que ele nunca exerceu cargo público e que a suposta compra de votos para o Rio envolveria apenas entidades privadas”, um episódio, segundo os advogados, “longevo, ocorrido há cerca de oito anos”.

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Bruno Kelly - 5.out.2017/Reuters O presidente do COI, Carlos Arthur Nuzman, é conduzido à sede da Polícia Federal, no Rio, na última quinta-feira (5)

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