Folha de S.Paulo

Quem será o próximo preso?

- MARILIZ PEREIRA JORGE COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

AO SABER da prisão de Carlos Arthur Nuzman, na manhã de quinta (5), tive vontade de levantar da cadeira e, tal qual a integrante de uma torcida muito engajada, gritar “eu acredito”, batendo as palmas da mão no alto da cabeça.

Não me refiro a alguma mudança significat­iva no país num curto espaço de tempo. Como escrevi recentemen­te, nesta mesma Folha, minha geração nunca viverá o Brasil do futuro. Não é pessimismo, é realidade.

Mas acredito que ainda veremos muito mais nomes da política e do comando dos esportes saírem de cena, diretament­e para a prisão. O que não significa que os lugares vagos não serão ocupados por gente da mesma estirpe. Uma coisa de cada vez.

Das famosas fotos, registrada­s em 2 de outubro de 2009, em Copenhague, na Dinamarca, quando o Rio foi anunciado a sede da Olimpíada de 2016, a maioria das pessoas está presa, processada, denunciada ou investigad­a.

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho não deve sair da prisão tão cedo. Foi condenado em dois dos 14 processos a que responde. Em um deles recebeu a maior pena aplicada a um político na Operação Lava Jato. Para a Justiça, Cabral é o “grande líder de uma organizaçã­o criminosa”. Pesam contra ele desvios de dinheiro nas obras da Olimpíada e também pagamento de suborno para que representa­ntes do COI (Comitê Olímpico Internacio­nal) votassem no Rio.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma coleção de acusações contra ele, entre formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção, tráfico de influência e obstrução de Justiça. Foi condenado no caso do tríplex e, se a segunda instância mantiver a condenação, pode ser preso. O Ministério Público pediu aumento da pena, cabe agora aos desembarga­dores da 4ª Região definir o futuro de Lula.

O ex-prefeito do Rio Eduardo Paes não enfrenta nenhum processo formal, mas foi acusado de receber R$ 16 milhões para a facilitaçã­o de contratos relativos aos Jogos, entre a Odebrecht e a prefeitura. A denúncia faz parte da delação premiada do ex-presidente de infraestru­tura da empresa, Benedicto Barbosa da Silva. Paes quer ser governador do Rio. Esta semana, o presidente da Alerj, Jorge Picciani, disse que ele será o candidato do PMDB. Alguém duvida que ele ganhe, se nada lhe acontecer judicialme­nte até lá?

Talvez você não se lembre, mas aparecem nas fotos o então ministro dos Esportes Orlando Silva, que deixou o cargo, adivinhe, acusado de participar de um esquema de desvio de dinheiro público do Programa Segundo Tempo, uma ação do governo federal que deveria promover o esporte em comunidade­s de baixa renda. Esse pessoal não tira só o leitinho das crianças.

Está lá também João Havelange, morto em agosto de 2016, bem no meio da Rio-2016. O todo poderoso da Fifa estava afastado da vida pública desde 2013, em meio a acusações de ter recebido propina pela venda dos direitos de mídia em torneios de futebol e também para que a agência de marketing esportivo ISL tivesse exclusivid­ade de contratos com a entidade.

Agora foi a vez de Nuzman, “o homem mais orgulhoso, vivo”. Vivo, porém, preso, pelas falcatruas cometidas apenas nos últimos dos mais de 20 anos à frente do COB. Vivo, porém, dormindo em colchões (superfatur­ados?), usados na Rio-2016. Quem será o próximo? Eu acredito.

Ainda veremos mais nomes da política e do esporte saírem de cena, diretament­e para a prisão

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