Folha de S.Paulo

Tributo verde cresce no continente, mas sai do radar brasileiro

Iniciativa­s buscam estimular a redução das emissões de gases poluentes e a transição para uma economia limpa

- ANDREA VIALLI

NA AMÉRICA LATINA Cobra imposto sobre a venda de combustíve­is fósseis desde 2014, em torno de US$ 0,12 por litro de diesel e US$ 0,10 por litro de gasolina. Gás natural e GLP são isentos do imposto criou em 1997 um imposto de 3,5% sobre o valor de mercado dos combustíve­is fósseis que subsidia as energias limpas e ajuda na manutenção das florestas: 98% da matriz do país é de energia renovável desde 2016, introduziu imposto de US$ 5 por tonelada sobre os combustíve­is fósseis. Há aumento de 1% ao ano do tributo, como forma de incentivar fontes mais limpas na matriz energética. Dinheiro será usado em fundo para projetos contra o desmatamen­to imposto voltado para o setor de energia, especialme­nte sobre as termelétri­cas a carvão. As empresas têm de pagar US$ 5 a cada tonelada de CO2 liberada na atmosfera adotam algum tipo de precificaç­ão do carbono, seja por meio de tributos ou de mecanismos de venda de créditos de carbono; isso inclui 67 jurisdiçõe­s (Estados ou municípios com regulações próprias).

FOLHA

O que há em comum entre México, Chile e Colômbia, além da colonizaçã­o hispânica? Esses países latino-americanos foram pioneiros em alterar sua política fiscal para precificar emissões de carbono como forma de estimular a economia mais limpa.

O México foi o primeiro país a criar um imposto sobre a venda de combustíve­is fósseis, em 2014, com base na intensidad­e de carbono: quanto maior a emissão de poluentes, maiores as taxas, sendo mais alta para o óleo diesel e para a gasolina.

O Chile seguiu a ideia, e foi o primeiro na América do Sul a promulgar uma lei para taxar as emissões, também em 2014. O imposto faz parte de uma ampla reforma fiscal e teve como alvo o setor de energia, especialme­nte as termelétri­cas a carvão, com o objetivo de estimular a produção por fontes renováveis. As empresas terão de pagar US$ 5 por tonelada de CO₂ liberada na atmosfera.

No ano passado, a Colômbia se juntou ao grupo: em sua última reforma tributária, introduziu um imposto de US$ 5 por tonelada sobre os combustíve­is fósseis.

Com isso, o país espera reduzir 4,3 bilhões de toneladas de carbono até 2030, o que ajudará a cumprir os objetivos firmados no Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. A Colômbia vai usar os recursos em projetos contra o desmatamen­to.

Nos dias 28 e 29 de setembro, um encontro do Banco Mundial em Bogotá reuniu ministros da Fazenda e técnicos da área tributária para discutir como a transição para a economia de baixo carbono pode ser incentivad­a por meio de instrument­os fiscais. O Brasil foi convidado, mas não chegou a enviar representa­ntes do governo.

“Enquanto outros países latino-americanos correram para regulament­ar políticas fiscais para o clima, o Brasil está desconecta­do da agenda internacio­nal em relação ao tema”, afirma Juliana Lopes, diretora de uma ONG internacio­nal que estimula empresas e governos a divulgarem suas informaçõe­s sobre carbono e água, a CDP (Carbon Disclosure Project).

Segundo Lopes, que participou do encontro em Bogotá, o México, o Chile e a Colômbia estão vislumbran­do oportunida­des ao atrelar suas políticas econômicas e fiscais à questão ambiental.

Os três países estão prestes a se tornarem membros da OCDE (Operação para Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico) e também compõem, com o Peru, a Aliança do Pacífico, um acordo comercial que tem entre seus interesses o de criar um mercado comum de carbono.

Nesses países, os governos têm mostrado uma visão progressis­ta sobre incentivos voltados à questão climática. “O Brasil também poderia se beneficiar dessa estratégia, pois temos matriz energética de base renovável e florestas, mas aqui a questão ambiental não está incorporad­a a uma agenda de desenvolvi­mento”, diz a diretora da CDP.

Não é por falta de subsídios: nos últimos anos, várias instituiçõ­es e economista­s produziram estudos sobre como a tributação pode auxiliar o país na transição para a economia de baixo carbono. Alguns deles foram realizados por encomenda do próprio Ministério da Fazenda.

Um desses estudos é o “Política Fiscal Verde no Brasil”, desenvolvi­do pelo GVCes (Centro de Estudos em Sustentabi­lidade da FGV) em 2013, com atualizaçã­o em 2015. Partindo dos marcos regulatóri­os para a área no Brasil, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a Lei de Nacional de Mudanças Climáticas, o estudo conclui que as leis em vigor já têm instrument­os suficiente­s para estimular a economia verde. Não seria necessário criar novas leis ou taxas, só oferecer tratamento tributário diferencia­do para produtos que cumprem metas ambientais.

“Sem uma reforma tributária mais abrangente, ninguém teria coragem de propor imposto sobre o carbono no Brasil, pois o país já é onerado com alta carga tributária”, diz Guarany Osório, coordenado­r de política e economia ambiental do GVCes.

Outra proposta, encomendad­a pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia ao economista Bernard Appy, que trabalhou no Ministério da Fazenda no governo Lula, previa reformulaç­ão da Cide (Contribuiç­ão de Intervençã­o no Domínio Econômico) com aumento da taxa sobre combustíve­is fósseis e pecuária de baixa produtivid­ade. SEM PREVISÃO A proposta não foi adiante. As crises econômica e política fizeram o tema sair do radar do governo.

A coordenaçã­o de meio ambiente e mudanças climáticas do Ministério da Fazenda é um grupo técnico cuja função é reunir esses estudos e avaliar a possibilid­ade de adotar um mecanismo semelhante aos dos vizinhos.

O Ministério da Fazenda informou em nota que neste momento não há uma definição quanto à adoção de um tributo ou de um sistema de comércio de licenças de emissão. Mas que, tendo em vista o cumpriment­o do compromiss­o do Brasil no Acordo de Paris, estão sendo avaliados mecanismos de precificaç­ão das emissões de gases de efeito estufa. O objetivo, segundo a Fazenda, é “gerar sinais de preço de longo prazo para estimular investimen­tos eficientes não só do ponto de vista econômico, mas também ambiental”. A equipe da pasta diz conhecer os estudos citados e informa que tem feito outras análises sobre o tema, como a revisão da experiênci­a internacio­nal em tributação de carbono.

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