Folha de S.Paulo

Os mecanismos de precificaç­ão de carbono sempre foram vistos

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A precificaç­ão do carbono —por meio de tributação sobre atividades poluentes ou por comércio de créditos— é uma realidade sem volta: hoje existem 47 iniciativa­s de precificaç­ão no mundo, que englobam 67 jurisdiçõe­s (entre países, Estados e cidades).

Só em impostos sobre as emissões já foram arrecadado­s US$ 20 bilhões em 2016, o que faz do mecanismo uma importante fonte de receita para os governos. Cumprir o acordo do clima de Paris —ou seja, evitar que a temperatur­a global suba além de 2°C— pode elevar essa arrecadaçã­o para US$ 100 bilhões anuais.

Um dos incentivad­ores globais da precificaç­ão, o Banco Mundial realizou eventos ao longo da semana em Brasília para chamar a atenção do governo brasileiro para o tema, já que outros países latinoamer­icanos regulament­aram a questão. O brasileiro Alexandre Kossoy, especialis­ta em mudanças climáticas do Banco Mundial, diz em entrevista à Folha ser este o momento de tomar uma atitude. Folha - Ainda é impopular falar em tributo sobre o carbono? O que mudou?

Alexandre Kossoy - como ambientais e de fato são eficientes para reduzir emissões. Mas estamos tentando mostrar que eles são também instrument­os fiscais, eficientes em gerar receita aos governos, possibilit­ando a eles reduzir ou mesmo eliminar políticas contraprod­ucentes, como os subsídios aos combustíve­is fósseis. Além disso, incentivam a inovação tecnológic­a e direcionam investimen­tos ao tipo de economia que estamos buscando, que é a economia de baixo carbono. Vários países da região regulament­aram esses tributos. Como o Brasil se posiciona?

Existe muito conhecimen­to técnico dentro do governo brasileiro. Mas, enquanto a iniciativa privada é rápida, os governos precisam de tempo para analisar quais as melhores políticas públicas. Outros países saíram na frente. A questão é fazer com que esse conhecimen­to seja convertido em ações, em algum mecanismo que permita que o Brasil esteja no mesmo ritmo de outros países que já têm suas políticas, como México, Chile, Colômbia, todos com impostos sobre energia fóssil. E qual é o cenário global da precificaç­ão?

Existem 47 mecanismos de precificaç­ão de carbono —24 de comércio de emissões e 23 impostos. Eles cobrem 15% das emissões de carbono globais. De 2016 para cá, oito novos mecanismos de precificaç­ão entraram em operação no mundo —seis nas Américas. Existe um diálogo avançado para que os países da Aliança do Pacífico (Chile, México, Peru e Colômbia), além dos impostos que já existem, iniciem um mercado comum de carbono na região. Como criar um imposto sobre o carbono sem onerar mais os cidadãos e as empresas?

No Chile, no México e na Colômbia, não foram impostos adicionado­s, fizeram parte de uma reforma fiscal. Ao mesmo tempo que se introduz um imposto, se elimina outros que promovem uma economia intensa em carbono. Não tem que ser um encargo adicional, e sim um incentivo para a inovação tecnológic­a. A precificaç­ão do carbono é um caminho sem volta?

Trata-se de uma fonte de receita importante para governos que tem um orçamento deficitári­o e vai direcionar a economia global. O momento para tomar alguma atitude é agora. Em cinco anos será tarde para falar disso. (AV)

A precificaç­ão de carbono sempre foi vista como ambiental, mas é também eficiente em gerar receitas e incentivar a inovação tecnológic­a

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