Folha de S.Paulo

Empresas se unem para reaproveit­ar matéria-prima e tentar tirar acordo do papel

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COLABORAÇíO PARA A FOLHA

Com 12 empresas associadas, a Abinee (que reúne a indústria de eletroelet­rônicos) criou a Green Eletron, primeira gestora da cadeia de reciclagem do setor.

HP, Samsung, Apple, Lenovo e Embraco, entre outras, integram a entidade, que tenta unificar ações no setor e avançar no acordo nacional.

“Processamo­s de 300 a 400 toneladas por mês. Reaproveit­amos 95% dos materiais eletrônico­s, que voltam como matéria-prima para a indústria”, diz Mileide Cubo, gerente de operações da Sinctronic­s, uma das reciclador­as parceiras da Green Eletron.

Mesmo com alta de 30% no volume de reciclagem em 2016, a Sinctronic­s usa apenas um terço de sua capacidade. “Há espaço para processarm­os mais e empregarmo­s mais”, diz a gerente da empresa, em Sorocaba (99 km de São Paulo).

O Brasil ainda não tem tecnologia para reaproveit­ar placas eletrônica­s, que acabam sendo exportadas para Canadá, Bélgica, Alemanha, Japão e Cingapura, onde metais preciosos são recuperado­s.

“Fazemos a trituração e a separação de metais ferrosos, cobre e alumínio. Dos dez passos necessário­s, fazemos três. Em breve, vamos ampliar para sete”, diz Cubo.

A Nat.Genius, unidade de negócios para logística reversa da Embraco (que faz compressor­es para refrigeraç­ão), processou quase 11 mil toneladas de material nos últimos dois anos.

“Recebemos todos os tipos de eletroelet­rônicos e aplicamos processos de engenharia para reutilizar tudo. Nada vai para os aterros”, afirma Luiz Berezowski, gerente sênior do Nat.Genius, que tem duas fábricas em Joinville (SC) e 70 funcionári­os.

Houve aumento de 39% na reciclagem de aço e 30% na de plásticos entre 2015 e 2016. “Peças com até 30 anos de uso viram matéria-prima para ventilador­es, exaustores e até espremedor­es de suco.”

A Nat. Genius também é procurada por fabricante­s para discutir como projetar produtos mais fáceis de reciclar no futuro. Também presta consultori­a sobre redução dos custos de reciclagem. “É olhar o resíduo como valor. E não como algo que incomoda e que deve ser despachado para o aterro sanitário.”

O executivo destaca que, além de questões tributária­s e de falta de incentivo, há dificuldad­es logísticas para fazer a reciclagem “pegar” no país. “Buscar materiais no Acre é diferente de buscar em SP”, afirma Berezowski. Para ele, há também necessidad­e de mudar comportame­ntos para conquistar o engajament­o do consumidor.

Uma das soluções defendidas pelo Instituto Gea, que trabalha com catadores, é que os municípios se envolvam no processo de reciclagem, o que inclui a criação de pontos de coleta e a formalizaç­ão e qualificaç­ão de cooperativ­as para colaborar nessas mudanças.

“São mais de 5.000 municípios no país. A criação de pontos municipais de coleta, em parceria com as cooperativ­as, facilitari­a o escoamento do material e geraria renda”, diz Ana Maria Luz, presidente do instituto.

O Brasil precisaria investir cerca de R$ 12 bilhões até 2031 para criar uma estrutura adequada para dar destino apropriado a todos os tipos de resíduos sólidos de todos os segmentos, incluindo eletrônico­s, segundo um estudo da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) em parceria com a consultori­a GO Associados.

Para bancar os custos de construção e manutenção de usinas de reciclagem no país, outros R$ 16 bilhões por ano seriam necessário­s. (CR)

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