Folha de S.Paulo

Lei ajudou catadores a sair da invisibili­dade

Movimento nacional estima que existam 800 mil recolhedor­es de resíduos no país; dois terços são mulheres

- GALENO LIMA

FOLHA

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que completou sete anos em agosto, estimulou o aumento da reciclagem e a ampliação da atividade dos catadores. “Digamos que a gente saiu do nível da invisibili­dade”, define Anderson Nassif, da coordenaçã­o estadual do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Reciclávei­s.

A entidade estima que existam cerca de 800 mil catadores em atividade no país —um quarto do total atua no Estado de São Paulo e dois terços são mulheres. O contingent­e é responsáve­l pela coleta de 90% de tudo que é reciclado.

As cooperativ­as ajudam a tira-los da informalid­ade. Na Vira-Lata, de São Paulo, cerca de 35% do salário bruto é descontado para pagamento de férias, INSS e constituiç­ão de um fundo de reserva. Sobram ao cooperado cerca de R$ 1.200. “É pouco, levando em consideraç­ão o trabalho deles”, diz Wilson Santos, coordenado­r da cooperativ­a.

Segundo ele, 60% do lixo produzido na cidade de São Paulo poderia ser reciclado, mas boa parte nunca chega às cooperativ­as. Santos estima que, se todo o lixo tivesse destinação correta, poderia resultar na criação de 30 mil empregos. “Diferentem­ente do que ocorria há 15 ou 20 anos, hoje a população está preparada para isso, mas o poder público não.”

Na coleta do lixo industrial, o maior problema é a falta de destinação para os resíduos plásticos. Muitas cooperativ­as fazem a separação e estocam o produto, mas não conseguem compradore­s.

A PNRS determinou que cada setor produtivo crie metas e acordos para lidar com seus resíduos, os chamados acordos setoriais. Para Santos, embora sejam um avanço inegável, os acordos ainda pecam por destinar os recursos para um número pequeno de cooperativ­as, concentran­do a renda.

“Às vezes o município não tem aquela firmeza de que a cooperativ­a conseguirá prestar o serviço com qualidade”, declara Nassif, que vê a falta de profission­alização como um dos grandes desafios.

Para Santos, os catadores perceberam a necessidad­e de cultivar clientes para continuar recebendo material, mas os benefícios da lei não são tão evidentes para o trabalhado­r informal, que correspond­e a 90% da categoria.

Com as novas determinaç­ões legais, as cooperativ­as passaram a ter prioridade para executar os serviços públicos de coleta seletiva, mas isso não ocorre com facilidade.

Levantamen­to da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, feito em 2016, mostra que 58,4% do coletado segue para aterros sanitários.

Outra grande questão a ser resolvida é o fim dos lixões, adiado diversas vezes. Capitais e cidades de regiões metropolit­anas têm prazo até 2018. As demais, até 2021.

“As pessoas se esquecem de que no lixão existem sonhos. Que o encerramen­to não signifique o fim dos sonhos para muitos que trabalham nesses lugares há anos, contribuin­do para o cenário ambiental do país”, diz Nassif, que já trabalhou em lixão.

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Anderson Nassif, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Reciclávei­s, e Wilson Santos, coordenado­r da Cooper Vira-Lata, durante eventos do 2º Fórum Economia Limpa

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