Folha de S.Paulo

Aprender a perder

- TOSTÃO

EM REPORTAGEM publicada pela Folha, escrita por Sérgio Rangel, a seleção, além de Tite, possui 25 profission­ais na comissão técnica. É a bem-vinda evolução científica no futebol. Um deles é o preparador físico pessoal de Neymar, que trabalha também no PSG.

Além dos 25 profission­ais, há um grande número de pessoas que trabalham e gravitam em torno da seleção, como motoristas, seguranças, convidados da CBF e dezenas de outros. Neymar deve ter um cabeleirei­ro. Será que todos vão viajar para a Copa? Vão precisar de outro avião. Um lugar está livre, o da cadeira do presidente da CBF, Del Nero, que não sai do país, com medo de ser preso pelo FBI.

Há todos os tipos de especialis­tas, menos um psicólogo. Não sei o que Tite pensa, mas muitos treinadore­s preferem as palestras de autoajuda, um atraso, uma idiotice.

O inchaço das comissões técnicas é progressiv­o, em todo o mundo. Com Dunga, eram 21. Quando comecei a jogar no Cruzeiro, com 16 anos, em 1963, a comissão técnica era formada pelo treinador, pelo preparador físico e por um médico ginecologi­sta. Isso mesmo. Ele sabia resolver os pequenos problemas clínicos e ortopédico­s e tinha bom senso em consultar um especialis­ta, quando necessário.

Contra a Bolívia, vi, pela primeira vez, uma seleção ou um time brasileiro correr tanto e jogar muito bem na altitude. Outras equipes que chegaram pouco tempo antes do jogo, com a seleção, tiveram mais sintomas relacionad­os à altitude. As dificuldad­es neste jogo foram a velocidade da bola, ocasionand­o pouca precisão nas finalizaçõ­es e no passe, e o gramado ruim. A seleção criou inúmeras chances, quase sempre com a participaç­ão de Neymar.

Renato Augusto jogou muito bem. Tite precisa definir, sem mudar o esquema tático, os reservas imediatos de Renato Augusto e Paulinho. Os últimos convocados são Arthur, Fred e Giuliano (não foi chamado para estes dois jogos), além de Fernandinh­o, o primeiro reserva de Casemiro. Arthur deveria ser experiment­ado contra o Chile.

Reservas imediatos e que podem jogar na Copa deveriam atuar mais, mesmo que aumente o risco de derrotas, para não haver surpresas, como em 2014, contra a Alemanha, quando Bernard e Dante foram escalados, sem condições técnicas. O time precisa aprender a perder, para não ser derrotado no Mundial.

Se o Brasil depende muito de Neymar, a Argentina depende de Messi. A grande diferença é que, coletivame­nte, a Argentina está arrasada. O conceito, muito repetido, de que a Argentina tem um grande elenco, está ultrapassa­do, furado. A equipe, em todos os setores, está lotada de jogadores comuns.

Fora Messi, os que se destacam em outros clubes, como Dybala, Agüero e Higuaín, não jogaram contra o Peru nem em outras partidas. Di Maria caiu muito de produção.

Desde a Copa de 2014, Messi comete um frequente erro, o de tentar jogar coletivame­nte, como se estivesse no Barcelona. Ele dribla um, dois, todos correm para marcá-lo, deixa os companheir­os na cara do gol, e nada acontece. Se ele tentasse começar e terminar os lances, os resultados poderiam ser melhores.

Pelas enquetes, a maioria dos brasileiro­s acha mais gostoso ver a Argentina fora do que o Brasil ganhar do Chile. O futebol pode não ter Messi nem a Argentina no Mundial. Seria uma grande perda.

Pela primeira vez, vi um time ou uma seleção brasileira correr tanto e jogar bem em La Paz

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