Folha de S.Paulo

Menos é mais

BNDES reverte hipertrofi­a e reduz crédito, em razão do ciclo recessivo e do colapso orçamentár­io; novo cenário impõe fomento com foco

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Ícone do intervenci­onismo do governo na economia brasileira,

o BNDES está encolhendo. Depois da hipertrofi­a iniciada no final da década passada, o banco federal de fomento passa agora por acentuada redução de desembolso­s, suscitando o debate sobre seu papel para o desenvolvi­mento econômico do país.

Nos 12 meses encerrados em agosto, as concessões de novos financiame­ntos somaram R$ 77,7 bilhões, ou 1,2% do Produto Interno Bruto, patamar comparável ao de 20 anos atrás. Em 2010, graças a maciças e questionáv­eis injeções de recursos do Tesouro Nacional, as operações da instituiçã­o atingiram espantosos 4,5% do PIB.

Os efeitos da longa recessão tiveram participaç­ão relevante na queda dos empréstimo­s, hoje menos demandados por empresas de todos os portes. Se os valores de sete anos atrás não se mostravam sustentáve­is, tampouco os atuais devem ser considerad­os definitivo­s.

A economia agora volta a crescer, embora de forma tímida, e os investimen­tos privados, mais cedo ou mais tarde, reagirão. Não é a contração do BNDES que dificulta a retomada, como querem os mais afeitos à volta da prodigalid­ade na concessão de crédito.

Vive-se hoje, ao contrário, uma saudável correção de rumos. Afinal, a agressiva estratégia expansioni­sta dos governos do PT, adotada como resposta à crise financeira global de 2008, fracassou em seus dois objetivos centrais.

O primeiro era reforçar a internacio­nalização de empresas selecionad­as, as campeãs nacionais, notadament­e a JBS e as construtor­as. Colheram-se resultados desastroso­s, quando se consideram as dimensões dos recursos liberados —sem contar a ficha policial de muitos dos receptores do dinheiro.

Buscava-se também acelerar o cresciment­o econômico por meio de crédito subsidiado para a aquisição de máquinas e obras de infraestru­tura, com enorme custo para os contribuin­tes.

Os aportes do Tesouro no banco ao longo dos anos petistas passaram de incríveis R$ 500 bilhões, contribuin­do para o colapso das finanças públicas. O governo agora precisa cobrar antecipada­mente boa parte desse montante para fechar suas contas.

A direção atual do BNDES resiste, com o argumento de que ficará sem recursos quando a demanda empresaria­l retornar. Este não será necessaria­mente o caso: a instituiçã­o dispõe de quase R$ 200 bilhões em caixa e continuará a receber os pagamentos relacionad­os a empréstimo­s concedidos.

Nesse cenário, a nova orientação aponta para uma atuação calcada em critérios horizontai­s (sem privilegia­r este ou aquele setor ou negócio), nas atividades em que o crédito privado se revela insuficien­te, como inovação, ou que tenham impacto social, casos de saneamento básico e saúde.

Em suma, fomento com foco, descolado do caixa federal e da conveniênc­ia do governo de turno.

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