Folha de S.Paulo

Sorvete, igual a sexo

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RIO DE JANEIRO - Há 30 dias despedi-me dos leitores dizendo que partiria para uma expedição em San Gimignano, perto de Florença, Itália, a fim de dirimir uma dúvida que, dizem, só se resolve dentro de suas muralhas —descobrir qual é o melhor sorvete do mundo. San Gimignano é famosa também por suas torres erguidas há 800 ou 900 anos pelas famílias que mandavam no lugar.

Essas famílias já desaparece­ram, mas a guerra de torres continua, só que na forma de torres de sorvete que se equilibram nas casquinhas portadas pelos milhares de turistas. Os exércitos ficam agora atrás dos balcões, armados de pás e colheres, e usam como munição tanto os sabores clássicos como os decididame­nte exóticos —sorvetes de alecrim, tiramisù, tanajura e do que você imaginar.

Bem, como veterano sorvetólog­o, saí por San Gimignano a fim de inspeciona­r as tropas —as dezenas de sorveteria­s que se espremem numa cidade pouco maior que o Leblon. Uma delas, a Dondoli, na Piazza della Cisterna, anuncia-se como a “campeã mundial do sorvete”. Deve haver uma Copa do Mundo da categoria para ratificar essa conquista, mas, na mesma piazza, ergue-se a Gelateria dell’ Olmo, que toca a trombeta e se diz “a melhor do mundo”. Em que ficamos? E, na Via San Giovanni, está a I Combattent­i, “a melhor da cidade” —apreciação nada modesta quando a cidade é San Gimignano.

Para não dizerem que só me concentrei nas grifes, lambi também casquinhas de estabeleci­mentos modestos, que se poderiam dizer da segunda divisão. Pois quer saber? Todas eram igualmente cremosas, consistent­es, perfeitas, insuperáve­is.

Esse negócio de melhor sorvete do mundo é bobagem. O melhor é aquele que você está tomando. E, mais do que nunca, concordei com a frase de que sorvete é que nem sexo. Quando é bom, é ótimo. Quando não é bom, ainda é muito bom. MARCUS MELO

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