O básico no centro
A atenção do Estado e do município e a abertura de diversos centros culturais não se mostraram suficientes para recuperar o centro de São Paulo, depois de décadas de depauperação e esvaziamento.
A gestão João Doria (PSDB) anunciou no mês passado um projeto do urbanista Jaime Lerner (exprefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná) para revitalizar a área, com patrocínio do sindicato do setor imobiliário.
A iniciativa sucede a mais de uma dezena de outras, prometidas por diferentes prefeitos nos últimos 20 anos, que não saíram do papel. Nem mesmo é a primeira de autoria de Lerner.
Seminário sobre o tema promovido por esta Folha revelou alguns consensos. O centro precisa de mais moradores, de diferentes rendas e perfis, de maior uso à noite e nos finais de semana; precisa, especialmente de zeladoria.
No evento, a plateia aplaudia quando especialistas falavam em retornar ao básico: limpeza, manutenção de calçadas, iluminação e segurança. De problemas sociais que só se agravaram nos últimos anos, desde dependentes químicos vagando pela região até o nú- mero de paulistanos dormindo em calçadas ou sob marquises.
Obras recentes, tanto da gestão Gilberto Kassab (PSD), que reabriu para os carros o calçadão da rua 24 de Maio, quanto de Fernando Haddad (PT), que fechou o trânsito na rua Sete de Abril, foram entregues com péssimo acabamento, um desleixo suprapartidário com dinheiro público.
Especialmente na área dos calçadões —que reúne edifícios com ocupação restrita ao térreo, por comércios—, o poder público ainda não testou opções que impeçam a sensação de insegurança predominante no período noturno.
Falou-se ainda na morosidade da burocracia, da prefeitura aos bombeiros. Fora os gastos para readequação dos sistemas elétrico, hidráulico, de segurança e conectividade digital, será difícil convencer moradores a pensar no centro se qualquer processo levar o triplo do tempo verificado em áreas mais novas da cidade.
Políticas sociais mais ousadas e uma zeladoria mais constante poderiam reocupar parte da região, que já vê com certo ceticismo projetos grandiosos quando nem o básico consegue ser atendido.