Folha de S.Paulo

Efeito Amazonino

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SÃO PAULO - Na esteira da mais dilacerant­e crise política da Nova República, que espetou em escândalos de corrupção lideranças históricas dos maiores partidos, calhou de haver eleição fora de época no Amazonas. Era um teste para a propalada renovação dos mandatário­s.

Venceu Amazonino Mendes, do tradiciona­l PDT, aos 77 anos, com três mandatos como prefeito de Manaus e três como governador do Amazonas. Ficou em segundo lugar o senador Eduardo Braga, 56, candidato pelo cinquenten­ário PMDB, duas vezes governador do Estado.

Menos de um ano antes, em outubro de 2016, houve sinais de renovação. Jejunos como João Doria, que atropelou caciques do PSDB, e Alexandre Kalil, do nanico PHS, sagraram-se prefeitos de São Paulo e Belo Horizonte. No Rio, o senador Crivella rompeu a sina minoritári­a dos políticos egressos do tronco neopenteco­stal.

A fogueira da vida real encarregou-se de reduzir as expectativ­as iniciais. Aos nove meses de mandato, Doria não se distingue, nas tábuas de popularida­de, dos prefeitos que o antecedera­m. Crivella parece um governante desgastado em fim de gestão. Kalil faz desabafos deselegant­es sobre a dificuldad­e de cumprir promessas.

De outro lado, a excepciona­lidade da profunda crise econômica começa a desfazer-se após três anos. Há nítida “desvaloriz­ação marginal” das notícias sobre corrupção. Cada novidade causa impacto decrescent­e sobre a reputação do alvejado, seja pelo efeito natural do acúmulo, seja pelos evidentes maus passos dos órgãos acusadores.

A política se parece mais com o que era antes da crise. Lula, com cinco candidatur­as presidenci­ais e dois mandatos no Planalto, lidera as intenções de voto. Alckmin, três vezes governador paulista e uma vez finalista da eleição para presidente, aos poucos esmaga a aventura João Doria. É o efeito Amazonino. vinicius.mota@grupofolha.com.br

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