Folha de S.Paulo

ANÁLISE Prefeito de SP sofre duros reveses, mas é muito cedo para descartá-lo

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O Datafolha aponta que 58% dos paulistano­s preferem que Doria permaneça como prefeito, contra 10% que querem vê-lo na disputa pelo Planalto.

Outra má notícia para o prefeito: para 45% dos eleitores da cidade, o governador Geraldo Alckmin deveria ser o candidato do PSDB à Presidênci­a da República. Doria tem 31% das preferênci­as. Ambos travam nos bastidores uma batalha pela indicação.

Goldman acredita que sejam poucas as chances de Doria ser o candidato do partido. “O momento em que ele conseguiu enganar muita gente já passou.” Alckmin, diz, é hoje o nome mais consistent­e do PSDB para concorrer ao cargo. Não descarta, porém, que Doria dispute a eleição de 2018 por outra sigla.

“Se ele encontrar algum partido que lhe dê condições, irá com certeza. A relação dele com o PSDB é puramente utilitária. Quando não tiver mais utilidade, ele buscará outro. Doria não tem vínculo, não tem compromiss­o com o PSDB nem com as ideias do partido.”

A relação tensa entre Goldman e Doria teve início no ano passado, nas prévias para escolher o tucano que disputaria a Prefeitura de São Paulo. O ex-governador acusou o hoje prefeito de comprar votos para vencer a disputa interna pela indicação da sigla.

DE SÃO PAULO

João Doria teve o pior fim de semana político desde que assumiu o papel de candidato a novidade no pleito presidenci­al de 2018.

Levou uma dura nos números do Datafolha sobre sua gestão e envolveu-se numa briga feia com o ex-governador Alberto Goldman, vicepresid­ente do PSDB.

Isso não significa, como seus adversário­s comemorara­m, o ensacament­o de sua viola. A pesquisa mostrando um tombo em sua aprovação e a ampliação da rejeição às suas pretensões presidenci- ais é um banho de água fria, mas não é inesperada.

Doria fez uma opção: colocar seu nome no balaio presidenci­al antes da hora. Isso encerra ônus e bônus. Até aqui, ele só colheu a parte negativa, com o empacament­o na corrida ao Planalto e o previsível mau humor popular.

Outro tucano, José Serra que o diga. Foi achincalha­do por usar a prefeitura paulistana como trampolim, mas o fato é que governar o Estado é tarefa mais confortáve­l do que lidar com a perene massa falida da capital. Era verdade em 2006, segue agora.

Claro, Serra almejava o Pla- nalto e teve de se contentar com o Bandeirant­es. Mas o período à frente do líder da Federação lhe garantiu vaga na corrida presidenci­al de 2010, não menos porque o postulante tucano de 2006, Geraldo Alckmin, fracassou.

Enquanto colhia más notícias, o prefeito também envolveu-se em uma altercação com a burocracia tucana.

Certo, Alberto Goldman não é exatamente uma figura de proa nas discussões do PSDB, mas encarna certa aristocrac­ia paulista do tucanato que nunca engoliu Doria —e Alckmin, é bom ressaltar.

Por que então o alvoroço tucano pela troca de animosidad­es entre os dois? Porque todos viram um ensaio de discurso para a eventual saída de Doria do partido.

Se é verdade que criador e criatura tendem a estar juntos em 2018, nunca é descartáve­l a ruptura. E ser maltratado no partido é um atalho confortáve­l para Doria.

Políticos do DEM e do PMDB ponderaram em favor do prefeito, vendo um estilo “bateu, levou” à la Collor-89, mas que conversa com o campo mais radicaliza­do do eleitorado à direita.

A ameaça da saída pode só servir para assustar o PSDB, que não tem clareza do cenário do ano que vem (com ou sem Lula, com a economia melhor ou estagnada etc.), mas é um dado a ser anotado.

(IGOR GIELOW)

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