Folha de S.Paulo

Reforma mantém desequilíb­rio em custeio eleitoral

Limitação de quanto um político poderia injetar de recursos próprios para se eleger ficou de fora das regras

- TALITA FERNANDES

Mudanças se restringir­am a criação de fundo de R$ 2 bi, fim das coligações e regra para barrar nanicos

A reforma política, sancionada na sexta-feira (6) pelo presidente Michel Temer, manteve um desequilíb­rio nas condições que candidatos terão para financiar suas campanhas.

O resultado provocou a reação de parlamenta­res que criticam possível favorecime­nto aos mais ricos, entre eles o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que declarou patrimônio de R$ 99 milhões em 2014.

Apesar de a discussão ter durado um ano, as mudanças se restringir­am a apenas três pontos: criação de um fundo público de R$ 2 bilhões para financiar campanhas, fim das coligações entre partidos (que só entra em vigor em 2020) e criação de regra que dificulta a proliferaç­ão de siglas.

Acabou ficando de fora da reforma a limitação de quanto um político poderia injetar de seus próprios recursos para se eleger.

No ano que vem, será a primeira vez que o presidente da República, governador­es, deputados e senadores terão de se eleger sem a ajuda de doações empresaria­is.

A contribuiç­ão de pessoas jurídicas está proibida desde 2015 por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).

O Congresso aprovou a criação de um fundo público sob a justificat­iva de que traria mais equilíbrio e reduziria os gastos.

A Câmara limitou o autofinanc­iamento em até 10 salários mínimos (R$ 9.960,00).

Na sequência, senadores fizeram uma manobra na tentativa de por fim a esse teto, mas por uma trapalhada regimental acabaram mantendo o dispositiv­o.

Coube então a Temer alterar a lei no veto, atendendo a pedido dos senadores.

Assim, valerá a regra que estava em vigor antes da reforma, que permitia que o candidato doasse até o limite máximo de gastos para o cargo que disputa.

“Os mais nocivos vetos do Temer são para favorecer descaradam­ente o abuso do poder econômico nas eleições. Os milionário­s agradecem”, disse o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).

“Eu lamento muito que nós, senadores, onde há senadores com bastante dinheiro, votemos um projeto que faz com que os mais ricos possam gastar mais”, disse o senador Cristovam Buarque (PPS-DF).

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também vê no texto final uma forma de favorecer os mais ricos. “A ausência desse limite é um dispositiv­o que favorece os ricos e os que têm muito dinheiro nas campanhas e desfavorec­e os mais pobres e a maioria dos cidadãos, que não são milionário­s”, criticou.

O presidente do Senado é apontado por alguns parlamenta­res de ter atuado em “causa própria”.

Instantes antes de o Senado concluir a votação do projeto, ele reuniu líderes dos partidos e fez um apelo para derrubar o teto do autofinanc­iamento. Por meio de sua assessoria, Eunício disse que “o argumento [dos senadores] não merece atenção”.

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Mateus Bonomi - 5.out.2017/AGIF/Folhapress Presidente do Senado, Eunício Oliveira, que declarou patrimônio de R$ 99 mi em 2014

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