Saúde é o principal pedido de romeiros que lotam Belém no Círio de Nazaré
Quando decidiu caminhar os mais de 350 km que separam Salinópolis, no Pará, da capital do Estado, Belém, Lydiane Silva, 39, sabia que enfrentaria dois obstáculos principais.
Ao viajar sozinha, estaria mais vulnerável a crimes, como furtos. Além disso, haveria um enorme desgaste físico até chegar às festividades do Círio de Nazaré.
A obsessão em cumprir uma promessa a Nossa Senhora de Nazaré venceu o que havia de receio.
Com apenas um ano e sete meses, Luana, a filha caçula de Lydiane, sofreu uma forte reação alérgica, que chegou a deixá-la em coma. Há sete meses, Luana passou por um transplante de medula em São Paulo.
Nos últimos três dias, a reportagem ouviu pelo menos três dezenas de romeiros, vindos de outras cidades do Pará e de Estados como o Maranhão. Há quem participe do Círio de Nazaré para pagar promessas de emprego e para aprovação no vestibular, mas a saúde de familiares é, de longe, o tema mais comum.
Mãe de quatro filhos, Lydiane se comprometeu com a santa que andaria até Belém se a caçula se recuperasse. Foi o que ela fez. Nesse período, não foi assaltada, mas pelo caminho alguém jogou uma pequena pedra no seu rosto –por intolerância com os chamados “promesseiros”, ela supõe.
O Círio de Nazaré acontece sempre no segundo domingo de outubro. Atualmente nove romarias compõem as festividades, que têm reunido centenas de milhares de pessoas todos os anos. A cerimônia acontece na cidade desde 1793.
“Não consigo fazer nada sem que a Nossa Senhora me acompanhe”, diz Lydiane, que mantém uma pequena pousada na praia de Atalaia, em Salinópolis.
Talvez a incumbência mais famosa entre os católicos da região Norte do país seja acompanhar a procissão segurando a corda. São, na verdade, cinco trechos de corda de longa espessura.
Ao fim dessa sequência, vem a imagem da santa, conduzida por dezenas de fiéis.