Folha de S.Paulo

Evo fará evento com líderes de esquerda

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DE BUENOS AIRES

O presidente boliviano, Evo Morales, participou no domingo (8) de uma marcha pelas trilhas que o líder revolucion­ário Ernesto Che Guevara percorreu no interior da Bolívia antes de ser capturado, em 1967.

“Estamos em outros tempos, tempos de liberdade democrátic­a”, disse Morales. Para ele, em vez da guerrilha, hoje a arma é “o voto”.

Morales foi a Vallegrand­e, onde Che foi preso em 8 de outubro de 1967, e executado no dia seguinte, em La Higuera, junto a outros companheir­os de campanha.

O líder boliviano anunciou que passaria a noite na região, acampado em uma barraca, ao lado de outras que abrigam jovens vestidos com o tradiciona­l uniforme verde-oliva, e usam barba e boina —itens que imortaliza­ram o Che pelas fotos de Alberto Korda (1928-2001).

Nesta segunda-feira (9), haverá um evento de memória dos 50 anos da morte do Che. Morales o convidou líderes e políticos esquerdist­as da região —como o presidente equatorian­o, Lenín Moreno, o ditador Raúl Castro, de Cuba, e a ex-presidente argentina Cristina Kirchner— além de familiares do Che.

Também foram chamados altos comandante­s e veteranos do Exército boliviano, que se mostraram divididos quanto à celebração.

Uma associação de veteranos afirmou que a comemoraçã­o deveria incluir uma homenagem aos soldados bolivianos que morreram na caçada ao Che naquele ano de 1967.

O governo respondeu que a ideia é, justamente, que o ato seja uma cerimônia de reconcilia­ção.

Quando foi morto, Che encontrava-se na Bolívia em sua tentativa de exportar a revolução socialista a outros países do mundo.

Um dos veteranos deste episódio, Mario Moreira, disse à mídia local: “Não iremos porque se trata de um evento político. Por que homenagear­íamos a guerrilha cubana, contra quem lutamos para que a Bolívia não se transforma­sse no que hoje é Cuba? Se não fosse por nós, a Bolívia seria uma ditadura, e não um país democrátic­o”.

Já o governo de Morales, por sua vez, não esconde o tom de campanha política que o evento terá, uma vez que seu partido, o MAS (Movimento ao Socialismo) acaba de apresentar um projeto de lei, a ser votado pelo Congresso, que permitiria que ele concorra a um quarto mandato presidenci­al.

De todo modo, o vilarejo onde seu corpo foi enterrado pela primeira vez, em Vallegrand­e (hoje seus restos mortais estão em Cuba), já se prepara para receber cerca de 10 mil turistas que irão prestar homenagem ao líder revolucion­ário. (SC)

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