Folha de S.Paulo

Putin encontra seu triunfo diplomátic­o

- JAIME SPITZCOVSK­Y COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Mathias de Alencastro; quinta: Clóvis Rossi; domingo: Clóvis Rossi

O PRESIDENTE russo, Vladimir Putin, em cerca de três anos, oscilou da maior derrota ao principal triunfo diplomátic­o, em sua longeva permanênci­a no poder, iniciada em 2000.

Putin testemunho­u, em 2014, a vizinha Ucrânia trocar a esfera de influência de Moscou pela aproximaçã­o com EUA e Alemanha, em perda geopolític­a e econômica colossal para um líder autoprocla­mado como restaurado­r do poder do Kremlin, após anos de caos e instabilid­ade dos antecessor­es Boris Yeltsin e Mikhail Gorbatchev.

Derrotado na Ucrânia, embora tenha reagido com anexação da península da Crimeia e apoio a separatist­as pró-Rússia em solo ucraniano, Putin encontrou na guerra da Síria a oportunida­de para reafirmar o poder de Moscou. E, nos últimos meses, remodelou o cenário do Oriente Médio, ao reintroduz­ir o peso do Kremlin na região, rarefeito desde o ocaso da Guerra Fria.

Moscou interveio no conflito sírio dois anos atrás. À época, Bashar alAssad acumulava derrotas. Atualmente, o ditador planeja, graças ao apoio russo e iraniano, declarar vitória na guerra iniciada em 2011.

Putin redesenha os caminhos do Oriente Médio a partir da intervençã­o na Síria. Beneficiou-se também da diminuição do envolvimen­to norte-americano na região, iniciado na era Obama. O presidente democrata defendia a tese do “pivô para a Ásia”, ou seja, a ideia de Washington diminuir presença em regiões levantinas para reforçar participaç­ão nas cercanias da China.

Donald Trump não compra a estratégia. Incluiu o Oriente Médio em sua primeira visita internacio­nal, sinalizaçã­o da importânci­a dada à região. Mas uma Casa Branca contaminad­a pela turbulênci­a trumpista exala liderança esmaecida.

Na semana passada, pela primeira vez na história, um monarca saudita visitou Moscou. A recepção ao rei Salman, aliado tradiciona­l de Washington, foi utilizada pela máquina de propaganda do Kremlin para alardear o cresciment­o do peso diplomátic­o do Kremlin.

Dias antes da visita saudita, Putin viajou a Ancara, para jantar com o presidente turco, Recep Erdogan. Há dois anos, Rússia e Turquia, integrante da Otan, estiveram à beira de uma guerra.

Hoje, no entanto, optaram por abandonar a rivalidade histórica para cooperar em áreas como a crise síria e trocas comerciais.

Putin também paira entre os rivais Irã e Israel. Em Teerã, Moscou encontra um de seus principais aliados econômicos e militares. O Kremlin, porém, também cultiva diálogo com o governo israelense, na busca de um difícil equilíbrio entre arqui-inimigos.

Iniciativa­s russas incluem ainda envolvimen­to em tentativas para solucionar a disputa por poder na Líbia, aproximaçã­o com o Egito e participaç­ão na mediação de diálogo entre grupos rivais palestinos.

Há décadas, Moscou não contava com agenda tão intensa no Oriente Médio.

O peso da ofensiva russa contrasta, por exemplo, com a periférica participaç­ão de Moscou na Guerra do Golfo, em 1991. Depois de anos de magra presença na região, o Kremlin recupera protagonis­mo no Oriente Médio, apresentan­do-o como principal êxito diplomátic­o.

Presidente russo redesenha os caminhos do Oriente Médio a partir da intervençã­o na Síria

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