Folha de S.Paulo

Mapa da morte em São Paulo espelha de Suécia até México

Recorte inédito da Folha mostra raio-X de crimes bairro a bairro e rua a rua

- ARTUR RODRIGUES RAPHAEL HERNANDES DANIEL MARIANI MARLENE BERGAMO

Taxa de assassinat­os a cada 100 mil habitantes vai de 23 no Jaçanã, na zona norte, para 1 em áreas como Jd. Paulista

Quando o som das balas começam, a manicure Adriana de Mesquita, 31, esconde a filha de quatro anos no quarto e diz a ele que estão soltando bombinhas na rua. É o jeito que encontrou para que a menina fique mais calma nos dias em que acontecem troca de tiros em frente à sua casa.

Desde que a menina nasceu, o barulho dos disparos é frequente —já foram dois casos de homicídio. O último em maio, quando um homem de 36 anos foi baleado no início da madrugada. Dois anos antes, houve uma chacina com três mortos no mesmo lugar.

A estratégia lembra um pouco o filme “A Vida é Bela”, com Roberto Benigni, no qual o protagonis­ta criava brincadeir­as para fazer com que o filho não percebesse os horrores do holocausto.

Adriana tenta proteger a filha da realidade de seu bairro, o Jardim São Luís, zona sul de SP, que tem o maior número absoluto de mortes na cidade. Nos 12 meses entre entre julho de 2016 e junho deste ano, foram 43 casos.

Levantamen­to inédito feito pela Folha revela, bairro a bairro e rua a rua, o raio-X das mortes violentas na cidade. Hoje, a compilação de dados do governo Geraldo Alckmin (PSDB) só permite saber os crimes por distritos policial.

O recorte adotado pela reportagem foi feito a partir da base de dados bruta do governo estadual, com milhares de mortes. O critério para escolher os casos —similar ao usado internacio­nalmente— contabiliz­a homicídios, lesões corporais seguidas de mortes e latrocínio­s (assaltos seguidos de morte), mas exclui mortes praticadas por policiais em confrontos.

O Jardim São Luís teve uma taxa de 16 mortes por 100 mil habitantes no período, o dobro da média da cidade. Para efeitos de comparação, o índice é superior ao de países como República Democrátic­a do Congo, na África, e Porto Rico, na América Central, ainda que sejam inferiores à média brasileira de 27 assassinat­os por 100 mil, uma das maiores do mundo. LADO EUROPEU Ao mesmo tempo, São Paulo também tem seu lado lado europeu. Outro jardim, o Paulista, bairro nobre da zona oeste, por exemplo, tem índice de

ADRIANA MESQUITA, 31

morador do extremo sul de São Paulo 1 morte a cada 100 mil habitantes, similar ao da Suécia.

Quando focados esses crimes com mortes, 33 dos 96 distritos da cidade têm índices menores que os dos EUA (4,8) e 28 com taxas maiores que a Nigéria (9,7). Já bairros centrais como a Sé atingem taxas que ultrapassa­m 70 casos por 100 mil habitantes, mas elas não refletem a violência real na região, uma vez que ali há poucos moradores, e o índice não contabiliz­a a grande população flutuante.

À frente dos violentos bairros do extremo sul, ainda aparece o Jaçanã (zona norte), com 23 mortes por 100 mil —índice superior ao do México, país assolado por guerras entre narcotrafi­cantes.

Duas chacinas a 500 metros uma da outra deixaram 10 vítimas, alavancand­o a violência no bairro, que registrou um total de 22 mortes.

A suspeita da polícia é que a onda de mortes possa estar relacionad­a a uma disputa por pontos de caça-níqueis e também de jogo do bicho.

Faz uns meses mataram o rapaz que estava indo visitar a avó dele aí do lado. Os tiros, eu e meu marido dissemos para nossa filha que é bombinha

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Túmulo do vigia que ateou fogo em creche de MG

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