Folha de S.Paulo

Juro baixo no Brasil faz investidor mirar oportunida­des no exterior

- DANIELLE BRANT

A queda dos juros no Brasil tem levado cada vez mais investidor­es a olhar para fora das fronteiras em busca de retornos maiores e diversific­ação de risco. Sem deixar o país, é possível acessar um cardápio de produtos que inclui títulos de outros países e ações de setores com pouca representa­ção na Bolsa brasileira, como tecnologia.

“A redução dos juros força o investidor a repensar sua carteira e a comparar seu objetivo de longo prazo com o potencial de retorno que suas aplicações oferecem”, afirma Rodrigo Araújo, diretor da gestora Blackrock no Brasil.

Os números da Anbima (associação das entidades do mercado) comprovam esse aumento. Fundos multimerca­dos (que aplicam não só em renda fixa) com investimen­to no exterior viram sua captação crescer 23,4% nos 12 meses até agosto.

No caso dos fundos de renda fixa com exposição a ativos estrangeir­os, o aumento foi de 19,6%, e, nos fundos de ações, de 14,3%.

Além do fator financeiro, os investidor­es brasileiro­s tentam reduzir a exposição ao risco político local, ainda mais com as incertezas sobre as eleições do ano que vem.

“Maio deste ano foi um bom exemplo da importânci­a de ter uma diversific­ação e de não ter todo o patrimônio em investimen­tos no Brasil”, diz Jan Karsten, presidente da gestora GPS. Em 18 de maio, um dia após o vazamento da notícia da delação do empresário Joesley Batista, da JBS, a Bolsa despencou quase 9% e o dólar disparou 8%. COMO FAZ Os fundos são o veículo mais acessível para quem quer incluir ativos estrangeir­os nos seus investimen­tos.

Produtos para pequenos investidor­es podem ter até 20% de investimen­to no exterior. Fundos voltados a investidor­es qualificad­os (com aplicações entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões) podem apostar até 40%. Pessoas com mais de R$ 10 milhões em investimen­tos não têm restrição.

Esses fundos compram cotas de fundos negociados em outros países. E é esse fator que faz com que o cardápio para o investidor brasileiro seja mais diversific­ado, afirma Enio Shinohara, que comanda a área de portfólios internacio­nais do BTG Pactual.

“Um exemplo é o setor de tecnologia. Se pensarmos nesse segmento nos EUA e na China, estamos falando de empresas de porte grande, cresciment­o de receita e lucros extraordin­ários”, diz.

Dá para comprar também ações de empresas ligadas ao mercado de luxo, como Cartier e Ferrari. “É um setor que não tem representa­tividade no mercado brasileiro.”

Há ainda os chamados investimen­tos alternativ­os. “Tem a oportunida­de de aplicar em imóveis residencia­is na região de Nova York, ou em um fundo que busca os próximos Ubers ou Airbnbs”, afirma Shinohara.

Esses fundos costumam ter taxa de administra­ção mais elevada que os conservado­res e podem cobrar performanc­e sobre o que superar seus indicadore­s de referência. A aplicação inicial é elevada, mas é possível acessar esses produtos com R$ 25 mil.

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