Juro baixo no Brasil faz investidor mirar oportunidades no exterior
A queda dos juros no Brasil tem levado cada vez mais investidores a olhar para fora das fronteiras em busca de retornos maiores e diversificação de risco. Sem deixar o país, é possível acessar um cardápio de produtos que inclui títulos de outros países e ações de setores com pouca representação na Bolsa brasileira, como tecnologia.
“A redução dos juros força o investidor a repensar sua carteira e a comparar seu objetivo de longo prazo com o potencial de retorno que suas aplicações oferecem”, afirma Rodrigo Araújo, diretor da gestora Blackrock no Brasil.
Os números da Anbima (associação das entidades do mercado) comprovam esse aumento. Fundos multimercados (que aplicam não só em renda fixa) com investimento no exterior viram sua captação crescer 23,4% nos 12 meses até agosto.
No caso dos fundos de renda fixa com exposição a ativos estrangeiros, o aumento foi de 19,6%, e, nos fundos de ações, de 14,3%.
Além do fator financeiro, os investidores brasileiros tentam reduzir a exposição ao risco político local, ainda mais com as incertezas sobre as eleições do ano que vem.
“Maio deste ano foi um bom exemplo da importância de ter uma diversificação e de não ter todo o patrimônio em investimentos no Brasil”, diz Jan Karsten, presidente da gestora GPS. Em 18 de maio, um dia após o vazamento da notícia da delação do empresário Joesley Batista, da JBS, a Bolsa despencou quase 9% e o dólar disparou 8%. COMO FAZ Os fundos são o veículo mais acessível para quem quer incluir ativos estrangeiros nos seus investimentos.
Produtos para pequenos investidores podem ter até 20% de investimento no exterior. Fundos voltados a investidores qualificados (com aplicações entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões) podem apostar até 40%. Pessoas com mais de R$ 10 milhões em investimentos não têm restrição.
Esses fundos compram cotas de fundos negociados em outros países. E é esse fator que faz com que o cardápio para o investidor brasileiro seja mais diversificado, afirma Enio Shinohara, que comanda a área de portfólios internacionais do BTG Pactual.
“Um exemplo é o setor de tecnologia. Se pensarmos nesse segmento nos EUA e na China, estamos falando de empresas de porte grande, crescimento de receita e lucros extraordinários”, diz.
Dá para comprar também ações de empresas ligadas ao mercado de luxo, como Cartier e Ferrari. “É um setor que não tem representatividade no mercado brasileiro.”
Há ainda os chamados investimentos alternativos. “Tem a oportunidade de aplicar em imóveis residenciais na região de Nova York, ou em um fundo que busca os próximos Ubers ou Airbnbs”, afirma Shinohara.
Esses fundos costumam ter taxa de administração mais elevada que os conservadores e podem cobrar performance sobre o que superar seus indicadores de referência. A aplicação inicial é elevada, mas é possível acessar esses produtos com R$ 25 mil.