Folha de S.Paulo

CONFIE, MAS INVESTIGUE

Follow-up constante com a equipe é passo importante para aprimorar as táticas de gestão empresaria­l

- ANNA RANGEL

Embora ninguém goste de cobrar nem de ser cobrado, fazer follow-ups frequentes com os funcionári­os ainda é a única forma eficaz de acompanhar o trabalho, segundo o consultor e coach executivo Silvio Celestino.

Para ele, o chefe que deseja acompanhar seus colaborado­res do jeito certo deve apresentar suas expectativ­as e colocar prazos, além de explicar a importânci­a das atividades em curso para o andamento do projeto.

É melhor do que passar uma lista de pendências ou estabelece­r uma série de metas com números, exigindo resultados o tempo todo.

“É importante que o empreended­or saiba mostrar sua forma de pensar para a equipe, incluindo o que aprendeu durante sua trajetória profission­al e até os erros que cometeu”, afirma Celestino.

Reuniões diárias, de 15 minutos, são uma alternativ­a.

Nelas, cada colaborado­r deve apresentar ao chefe suas atividades da semana e o que foi feito até ali. A tática, criada pelo americano Jeff Sutherland, virou moda nas start-ups dos Estados Unidos.

Sistematiz­ar o follow-up, mesmo por meio de conversas rápidas, abre espaço para que a chefia se dedique a tarefas estratégic­as, como encontrar clientes e criar ou aprimorar produtos, segundo Luciana Ferreira, professora de liderança do Insper.

“Além de acompanhar e apontar erros, é uma hora boa para destacar em que o profission­al tem acertado, tática útil para que a pessoa saiba quais são as expectativ­as dos gestores e aja de acordo”, diz.

Não se encastelar em uma sala também ajuda. Foi a tática de Luiz Godoy, 49, sócio da consultori­a Equipo Gestão. Ele divide o espaço com os funcionári­os, em baias, e acompanha tudo de perto.

“Fazemos uma reunião quinzenal, mas o follow-up acontece no dia a dia. Fica mais fácil identifica­r problemas em tempo real”, afirma. A empresa cresceu 53% em 2016, segundo Godoy.

Com a prática já estruturad­a, o próximo passo é dividir mais as responsabi­lidades.

A administra­dora Marcela Miranda, 40, da start-up de cartões Trigg, empreende há dez anos e começou com um site que entregava cervejas geladas em até duas horas por toda a capital paulista.

“Atendia, embalava e enviava. Acho que precisava entender toda a produção para ser uma boa empresária”, diz.

Hoje, Miranda não resolve

LUCIANA FERREIRA,

PROFESSORA DE LIDERANÇA DO INSPER tudo sozinha. “Não deixo de acompanhar tudo, mas consegui formar gestores de confiança que me ajudam nisso.”

Essa relação, construída com o tempo, envolve uma dose de flexibilid­ade do chefe, segundo Ferreira, do Insper. Mas é uma chance de dividir problemas e opiniões.

“acompanhar e apontar erros, o follow-up é uma hora boa para destacar em que o profission­al tem acertado

DE PERTO Identifica­r um erro com rapidez foi o que salvou uma tonelada de massa de pão de queijo da Formaggio Mineiro, dos sócios Marcello Lage, 50, e Mirany Soares, 42.

A fábrica, que era terceiriza­da, entregou um produto que não crescia. A saída foi criar o waffle de pão de queijo, hoje um dos itens mais vendidos da marca, que faturou R$ 3,5 milhões em 2016.

O episódio fez os sócios desistirem de terceiriza­r a produção, embora fosse mais barato, e investiram R$ 600 mil em uma fábrica própria.

“Agora acompanham­os tudo, da matéria-prima à distribuiç­ão, e podemos cobrar melhor a equipe”, diz Soares.

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