Folha de S.Paulo

Violência concentrad­a

Disparidad­e das taxas de homicídio nos distritos da capital paulista mostra que, além da riqueza, a segurança também é mal distribuíd­a

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Assim como a riqueza, a violência urbana também compõe um panorama de desigualda­de extrema em São Paulo. Se a taxa de mortes violentas por habitante na cidade é a mais baixa entre as capitais brasileira­s, os desvios em relação a essa média nos diferentes bairros mostram-se expressivo­s.

No Jardim São Luís, na zona sul, houve 43 casos de homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte de julho de 2016 a junho deste ano. Trata-se do equivalent­e a 16 por grupo de 100 mil moradores, um patamar quase idêntico ao verificado no México, onde o narcotráfi­co impulsiona o índice.

Chacinas inflaram os números do Jaçanã, na zona norte, a 23 por 100 mil —o que pode ser considerad­o o pior resultado do município, descartand­o-se cifras distorcida­s, especialme­nte em áreas do centro, pela incidência de populações flutuantes elevadas.

Mesmo tais números estão aquém da média calculada nas capitais do país, de 31/100 mil em 2015. Em Fortaleza, a mais violenta, são 64; em São Paulo, menos de 9.

Existem oásis paulistano­s de tranquilid­ade à moda da Bélgica, como Alto de Pinheiros e Perdizes, na zona oeste da cidade, com cifras em torno de 2/100 mil. Ou metade disso, caso do Jardim Paulista, comparável à Suécia.

O levantamen­to foi realizado por esta Folha com base em dados oficiais brutos, divergindo das estatístic­as tais como são apresentad­as pela Secretaria da Segurança Pública do Estado, que divulga a quantidade de assassinat­os (excluindo latrocínio­s).

Quem contempla o mapa publicado vê que a pior violência está disseminad­a pela periferia, com destaque para a zona sul.

Esse padrão é conhecido há décadas, o que leva a perguntar por que o poder público tem tanta dificuldad­e de reduzir o flagelo de populações em locais tão bem delimitado­s —no geral, pobres.

É certo que a polícia paulista logrou diminuir de modo expressivo os homicídios no Estado, que hoje apresenta índices abaixo de 10/100 mil, incomuns no Brasil — cuja média se aproxima dos 30 por 100 mil habitantes.

Segundo o governo estadual, no perímetro dos bairros Jardim São Luís, Campo Limpo, Capão Redondo e Jardim Ângela houve redução de 82% nos homicídios dolosos desde 2001, com queda da taxa de 89 para 13/100 mil.

Reduzir os níveis gerais de violência urbana é bom e necessário, mas não suficiente. Cabe ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) buscar também que a segurança pública seja bem distribuíd­a, e não privilégio de bairros afluentes.

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