Folha de S.Paulo

Novo teste para o ditador

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Com quase um ano de atraso, causado por deliberada­s manobras do regime de Nicolás Maduro, a Venezuela vai às urnas neste domingo (15) para eleger governador­es de seus 23 Estados.

A forma como o pleito será conduzido e a aceitação plena dos resultados, sejam positivos ou não para o chavismo, poderão dar a medida do caminho que o ditador venezuelan­o pretende seguir: manter a repressão policial e o cerceament­o político a seus adversário­s ou abrir canal efetivo de diálogo.

A votação deveria ter ocorrido até dezembro de 2016, em observânci­a ao período de quatro anos de mandato fixado pela Constituiç­ão chavista de 1999.

Poucos meses antes, entretanto, o Conselho Nacional Eleitoral, dominado pelo governo, argumentou que a instabilid­ade institucio­nal e a crise econômica impediam o país de organizar o processo. A oposição viu na decisão uma manobra de Maduro, cuja popularida­de caía, para evitar uma provável derrota de sua base nos Estados.

Em fevereiro, o mesmo CNE anunciou um segundo adiamento, agora sob a justificat­iva de recadastra­r os partidos —somente o governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) foi liberado da exigência de coletar um mínimo de assinatura­s de apoio.

O pleito, decidiu-se então, ocor- reria em dezembro deste ano, mas veio a terceira interferên­cia do regime. O arremedo de Assembleia Constituin­te inventado neste ano pelo chavismo determinou o adiantamen­to para este mês, sem ao menos uma explicação técnica.

Posto o claro componente manipulado­r sobre as eleições, afigura-se razoável a preocupaçã­o dos opositores quanto a eventuais fraudes, tal como se viu na farsa das urnas para a Constituin­te. Maduro, mais uma vez, não permitiu a entrada de observador­es estrangeir­os independen­tes.

Pesquisas apontam que os antichavis­tas podem vencer em pelo menos 12 Estados, entre eles os populosos Miranda e Lara, que já administra­m, e Zulia e Táchira, onde houve expressiva­s manifestaç­ões contra o regime —que, hoje, não comanda apenas três unidades federativa­s.

Se tal previsão se confirmar, o ditador se verá forçado a reconhecer um novo equilíbrio de forças — ou, no pior dos cenários, usar seu controle sobre o Judiciário e encontrar algum pretexto para impugnar rivais eleitos.

Maduro sinalizou nesta semana que retomaria contato com a oposição, sob intermedia­ção da República Dominicana. Seus adversário­s dizem que ainda é cedo para tanto. Convém, de fato, esperar o que virá das eleições regionais.

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