Folha de S.Paulo

Regulament­ação do lobby

Modelo adotado pela União Europeia, com transparên­cia e igualdade de acesso aos tomadores de decisão, pode servir de base para o Brasil

- ERIK CAMARANO E LARISSA WACHHOLZ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A discussão sobre a regulament­ação do lobby no Brasil está sendo encarada como medida para coibir os operadores de propina que atuaram em nome de empresas e políticos no escândalo revelado pela Operação Lava Jato. Qualquer mecanismo que previna e combata a corrupção deve ser apoiado e incentivad­o, mas o regramento de uma atividade legítima, prevista na Constituiç­ão, que é a promoção e defesa de interesses nas esferas públicas, comumente chamada de lobby, precisa ser feito com cuidado.

É necessário refletir continuame­nte sobre o que podemos aprender com a experiênci­a alheia, além de intensific­ar os esforços na comunicaçã­o à sociedade sobre a realidade da nossa atuação em relações governamen­tais. O modelo adotado pela União Europeia mostra caminhos que podem ser tomados na regulament­ação do lobby no Brasil.

Para conhecer como funciona a representa­ção de interesses em Bruxelas, centro das principais decisões da União Europeia, um grupo de profission­ais embarca este mês para uma missão de estudos promovida pelo Instituto de Relações Governamen­tais (Irelgov). O conhecimen­to acumulado na viagem será aproveitad­o para redigir um manual de melhores práticas do setor.

O bloco europeu tem buscado regulament­ar o lobby prezando pela transparên­cia e igualdade de acesso às instituiçõ­es, que deve ser garantida a todos e não apenas às organizaçõ­es estruturad­as e providas de recursos. Para que o livre acesso aos tomadores de decisão seja uma realidade é preciso, portanto, evitar a burocratiz­ação excessiva.

O artigo 11 do Tratado de Lisboa, de 2009, determina que cidadãos e associaçõe­s representa­tivas têm o direito de expressare­m e partilhare­m publicamen­te os seus pontos de vista sobre qualquer área de atuação da União Europeia. As instituiçõ­es públicas também devem estabelece­r diálogo aberto e regular com as associaçõe­s representa­tivas e com a sociedade civil.

Em 2011 foi criado o “Registro de Transparên­cia”, cadastro de profission­ais e organizaçõ­es voltadas às relações governamen­tais. O registro é voluntário, mas só profission­ais e instituiçõ­es credenciad­os podem participar de reuniões com comissário­s, membros do gabinete e diretores-gerais da Comissão Euro- peia. É preciso estar registrado a fim de obter autorizaçã­o para falar em audiências públicas nas comissões do Parlamento. Como próximo passo na evolução da regulament­ação do lobby, discute-se o estabeleci­mento de um registro obrigatóri­o.

Regular o lobby é importante para aumentar a cultura da transparên­cia no Brasil, mas não é vacina contra a corrupção. Ressaltamo­s que os envolvidos nos esquemas de propina não estavam fazendo lobby, mas cometendo ilícitos. No Brasil, a grande maioria dos profission­ais de relações governamen­tais sabe de sua missão e exerce a atividade com ética e competênci­a.

A experiênci­a da UE mostra que a defesa de interesses é atividade legítima, auxilia no bom funcioname­nto das instituiçõ­es e contribui para o fortalecim­ento da democracia. A transparên­cia, o diálogo e a igualdade de acesso aos tomadores de decisão são conceitos que deveriam também ser priorizado­s nas discussões para a regulament­ação do lobby no Brasil. ERIK CAMARANO LARISSA WACHHOLZ

A louvável iniciativa da Folha de mostrar o que algumas crianças pensam sobre a atualidade pode ser o início de um projeto com professore­s, profission­ais da saúde, idosos, clientes de bancos, dependente­s de atendiment­os médicos, entre tantos outros. Chega de gastar tempo e papel com políticos, advogados e juízes. Deem atenção para quem fala a verdade e quer realmente trabalhar pelo país (“Alguém com mais de 60 anos não aguenta uma sala cheia”, “Mercado”, 10/10).

CARLOS GASPAR

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Acredito que, antes de armar ou desarmar a sociedade, precisamos desarmar os espíritos. Qualquer instrument­o proporcion­a destruição quando a cabeça não funciona. Podem ser caminhões, ônibus, aviões, trens, navalhas, ácidos, gases ou armas de fogo. Os Estados Unidos têm a maior taxa de homicídios com armas de fogo do mundo desenvolvi­do. Antes de tudo é preciso educação. Qualquer debate sobre um maior controle do porte de armas é coberto por argumentos exasperado­s de ambos os lados.

HENRIQUE NELSON CALANDRA,

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