Folha de S.Paulo

Maia peita governo e ameaça recusar medidas provisória­s

Presidente da Câmara se irrita com obstrução em texto sobre leniência

- DANIEL CARVALHO

Às vésperas da votação da segunda denúncia contra Temer, ele volta a dar sinais de que está insatisfei­to com governo

Às vésperas da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), partiu para o enfrentame­nto direto com o Palácio do Planalto.

Nesta terça-feira (10), Maia contrariou o governo e não encerrou a sessão do plenário para permitir que a CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) começasse a leitura do relatório da denúncia.

Governista­s esvaziaram o plenário e iniciaram obstrução que inviabiliz­ou a votação da medida provisória que regulament­a os acordos de leniência do Banco Central e da CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s) com instituiçõ­es financeira­s.

Maia disse que não retomaria o assunto na segunda-feira (16) e, mais que isso, não aceitaria mais medidas provisória­s do governo até que o Legislativ­o aprecie a PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) que regulament­a a tramitação de MPs.

“Já pedi ao presidente [Michel Temer] e reitero. As próximas medidas provisória­s editadas, se elas não tiverem relevância e urgência, assim que chegarem aqui serão devolvidas ao governo”, disse Maia, que recebeu apoio de deputados da oposição. RESPEITO Governos costumam editar medidas provisória­s para garantir apreciação mais célere, já que MPs trancam a pauta de votações. Desde que assumiu o Planalto, Temer editou 79 medidas provisória­s.

“O Poder Executivo precisa respeitar o Parlamento. Quando a gente tem uma pauta e o governo obstrui a pauta da Casa sem um motivo claro, a gente precisa dizer o seguinte: a gente trabalha em harmonia, mas a gente quer respeito à Câmara dos Deputados”, afirmou o presidente da Câmara.

Maia já tem dados alguns sinais claros de insatisfaç­ão não apenas com o governo, mas também com o PMDB, partido de Michel Temer.

Criticou o assédio de peemedebis­tas a parlamenta­res do PSB que negociavam migração para o DEM e incomodou-se com o texto da reforma política apresentad­o pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) que era prejudicia­l ao seu partido.

Nesta terça-feira, o presidente da Câmara externou outra reclamação que vinha fazendo nos bastidores. Ele demonstrou irritação com os sinais de que Temer só deve assinar o pacote de medidas de austeridad­e, anunciado há quase dois meses, após a votação da segunda denúncia.

Maia lembrou que, quando Temer viajou para a China, em agosto, deixou decretos e projetos de lei para que ele, como presidente da República interino, assinasse, pois eram urgentes. A papelada não foi encaminhad­a ao Congresso até agora.

“Não está tramitando desde o início de setembro porque o presidente Michel Temer não encaminhou”, disse Rodrigo Maia.

A relação entre Maia e Temer já havia ficado estremecid­a à época da primeira denúncia. Naquele momento, ele já havia feito críticas ao entorno do presidente.

Próximo na linha sucessória, Maia quis demonstrar à época que poderia ter dificultad­o a vida de Temer, mas se manteve fiel.

“Eu teria condições de gerar uma votação muito difícil para o presidente na última quarta-feira e não o fiz”, disse Maia em entrevista à Folha em agosto.

Aliados de Temer minimizara­m o episódio. Disseram que o presidente da Câmara não conseguirá impor uma derrota ao presidente e que fez as críticas apenas para aumentar seu capital político.

Maia demonstrou empenho em votar a MP do acordo de leniência desde a manhã desta terça, quando reuniuse com o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, para aparar arestas do texto.

Com pressa para que o re- latório do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) sobre a denúncia contra Temer fosse lido, emissários do peemedebis­ta tentavam convencer Maia a encerrar a sessão desta terça.

Ele ignorou os apelos e ainda convocou mais um sessão, o que fez com que a leitura só começasse às 16h25.

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Pedro Ladeira/Folhapress O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM)

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