Catalunha declara independência, recua e pede diálogo com Madri
Movimento do chefe de governo catalão para ganhar tempo confunde população e classe política
“
Apresento o mandato [popular] para que a Catalunha se torne um Estado independente [...] E com a mesma solenidade, eu e o governo propomos que o Parlamento suspenda os efeitos da declaração de independência para que nas próximas semanas mantenhamos um diálogo sem o qual não é possível chegar a uma solução acordada. Cremos que o momento exige não aumentar a tensão
Governo central espanhol considera ato inadmissível e pode suprimir autonomia de região independentista
O presidente catalão, Carles Puigdemont, declarou a independência da Catalunha nesta terça-feira (10). Mas, em seguida, frustrando seus aliados separatistas, pediu que legisladores suspendessem a proclamação por semanas para que houvesse diálogo.
Essa parece ter sido a fórmula encontrada por seu gabinete para declarar a independência, como vinha prometendo para a população, e evitar o confronto imediato com o governo em Madri.
Puigdemont afirmou ter recebido um “mandato do povo para que a Catalunha se transforme em Estado independente sob forma de república”. Em seguida, ele assinou um documento declarando a independência.
Os separatistas CUP (Candidatura de Unidade Popular) e Junts pel Sí, aliança que Puigdemont integra, rubricaram o documento diante de câmeras após a plenária. O texto de quatro páginas é incisivo quanto à independência e não cita a suspensão pedida pelo presidente.
Com o embargo, Puigdemont disse ter feito “um gesto de responsabilidade e generosidade, voltando a estender a mão ao diálogo”. “Não somos loucos. Não somos golpistas. Somos gente normal que esteve disposta a todo o diálogo necessário”, afirmou ao Parlamento.
A manobra, no entanto, parece ter apenas prolongado o caos político na Espanha. Os próprios legisladores ficaram confusos após a fala de Puigdemont. Miquel Iceta, deputado do Partido Socialista Catalão, afirmou: “Não é possível suspender uma declaração que não foi feita”.
Já Anna Gabriel, deputada pelo separatista CUP, decepcionada com o presidente, disse que “talvez tenhamos perdido uma oportunidade”.
CARLES PUIGDEMONT
presidente catalão