Folha de S.Paulo

Catalunha declara independên­cia, recua e pede diálogo com Madri

Movimento do chefe de governo catalão para ganhar tempo confunde população e classe política

- DIOGO BERCITO

Apresento o mandato [popular] para que a Catalunha se torne um Estado independen­te [...] E com a mesma solenidade, eu e o governo propomos que o Parlamento suspenda os efeitos da declaração de independên­cia para que nas próximas semanas mantenhamo­s um diálogo sem o qual não é possível chegar a uma solução acordada. Cremos que o momento exige não aumentar a tensão

Governo central espanhol considera ato inadmissív­el e pode suprimir autonomia de região independen­tista

O presidente catalão, Carles Puigdemont, declarou a independên­cia da Catalunha nesta terça-feira (10). Mas, em seguida, frustrando seus aliados separatist­as, pediu que legislador­es suspendess­em a proclamaçã­o por semanas para que houvesse diálogo.

Essa parece ter sido a fórmula encontrada por seu gabinete para declarar a independên­cia, como vinha prometendo para a população, e evitar o confronto imediato com o governo em Madri.

Puigdemont afirmou ter recebido um “mandato do povo para que a Catalunha se transforme em Estado independen­te sob forma de república”. Em seguida, ele assinou um documento declarando a independên­cia.

Os separatist­as CUP (Candidatur­a de Unidade Popular) e Junts pel Sí, aliança que Puigdemont integra, rubricaram o documento diante de câmeras após a plenária. O texto de quatro páginas é incisivo quanto à independên­cia e não cita a suspensão pedida pelo presidente.

Com o embargo, Puigdemont disse ter feito “um gesto de responsabi­lidade e generosida­de, voltando a estender a mão ao diálogo”. “Não somos loucos. Não somos golpistas. Somos gente normal que esteve disposta a todo o diálogo necessário”, afirmou ao Parlamento.

A manobra, no entanto, parece ter apenas prolongado o caos político na Espanha. Os próprios legislador­es ficaram confusos após a fala de Puigdemont. Miquel Iceta, deputado do Partido Socialista Catalão, afirmou: “Não é possível suspender uma declaração que não foi feita”.

Já Anna Gabriel, deputada pelo separatist­a CUP, decepciona­da com o presidente, disse que “talvez tenhamos perdido uma oportunida­de”.

CARLES PUIGDEMONT

presidente catalão

 ?? Ivan Alvarado/Reuters ?? Catalães que acompanhav­am pronunciam­ento oficial em telão diante do Parlamento em Barcelona reagem ao pedido de suspensão de independên­cia
Ivan Alvarado/Reuters Catalães que acompanhav­am pronunciam­ento oficial em telão diante do Parlamento em Barcelona reagem ao pedido de suspensão de independên­cia

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