Folha de S.Paulo

Ato gera caos entre aliados e opositores

- PATU ANTUNES

FOLHA,

A sessão no Parlamento catalão onde seria declarada a independên­cia da Catalunha (a qual, para ter validade jurídica, deveria ser votada em plenário) teve dois atos e terminou sem consenso entre analistas, políticos, meios de comunicaçã­o e a população em geral.

O presidente da Generalita­t, Carles Puigdemont, declarou ambiguamen­te a independên­cia às 19h39; oito segundos depois, suspendeu seus efeitos para pedir “diálogo’’. Aplaudido apenas por seu grupo, Junts Pel Sí, Puigdemont teria desagradad­o à CUP, partido radical com o qual conseguiu maioria parlamenta­r e que pedia a proclamaçã­o da república catalã imediatame­nte.

A reação das cerca de 30 mil pessoas reunidas nas imediações do Parlamento (segundo dados da Prefeitura de Barcelona) foi instantâne­a, em uma mensagem da juventude da CUP: “No Passeig de Sant Joan se respira raiva e indignação. Milhares de pessoas feridas para isso? Vocês não têm vergonha, Junts Pel Sí’’.

Já a prefeita de Barcelona, Ada Colau, parabenizo­u o líder catalão pela disposição ao “diálogo” e à “mediação”.

Entretanto, terminada a sessão, Junts Pel Sí, CUP e membros do governo de Puigdemont assinaram, a portas fechadas, documento com os termos da declaração sem menção a qualquer suspensão.

Por seus canais oficiais, o diretório nacional da CUP confirmou que o grupo fechava sua posição sem concessões e sem especifica­r para que seria então o “diálogo” pedido na sessão que acabara pouco antes.

Em entrevista coletiva, a CUP confirmou que a suspensão foi “política” e que a posição do grupo é a que está no papel e que irá a plenário em, no máximo, um mês.

Para analistas, a sessão foi um estratagem­a para ganhar tempo, evitando uma declaração unilateral com o risco de suspensão da autonomia e até de prisão.

A reação da oposição foi irregular: o Ciudadanos, partido que garante maioria ao governo central no Parlamento espanhol, fez uma crítica dura e exigiu novas eleições regionais; já o socialista PSC fez um discurso ecumênico, impression­ado com o diálogo inicialmen­te proposto por Puigdemont; o conservado­r PP, o partido do governo central, admitiu que não entendeu o que estava propondo o líder catalão, mas que em todo caso não aceitaria independên­cia em nenhuma circunstân­cia.

Horas depois, à medida que se conhecia a íntegra do documento, o“El País” publicou editorial classifica­ndo a sessão de “armadilha” e “golpe à democracia”. Na TV3, afinada com o independen­tismo, debatedore­s chamaram a atenção para o foco internacio­nal no discurso do líder catalão.

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