Folha de S.Paulo

Aval do Cade pode selar compra bilionária

Conselho entende que não há motivos para barrar a compra da Time Warner pela AT&T

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Contrarian­do a expectativ­a da Anatel (Agência Nacional de Telecomuni­cações), o Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica) deve aprovar a compra da Time Warner, dona de canais como CNN, HBO e TNT, pela operadora americana AT&T, um negócio de US$ 85,4 bilhões.

O caso deve ser julgado nas próximas semanas, e a maioria dos conselheir­os do Cade entende que não há motivos para barrar a operação, diferentem­ente da recomendaç­ão da área técnica do tribunal que julga casos de abusos à concorrênc­ia.

Para ser efetivada, a transação precisa passar pelas autoridade­s regulatóri­as de 19 países. Pelo menos 16 já deram sinal verde, incluindo a União Europeia.

No Brasil, a lei que define as regras de Serviço de Acesso Condiciona­do (SeaC) prevê que nenhuma operadora pode controlar uma produtora de conteúdo. Também não permite que emissora de TV ou outra produtora de conteúdo comande uma empresa de distribuiç­ão. Foi o que impôs à Globo a venda de sua participaç­ão na Net.

Vigente desde 2011, esse arranjo foi definido para evitar que um grupo domine todos os segmentos do mercado — produção e distribuiç­ão de conteúdo, particular­mente.

É isso o que está em jogo na operação entre AT&T e Time Warner. No Brasil, a AT&T controla indiretame­nte a Sky, uma das grandes da TV paga. A Sky possui canais da Time Warner e de suas concorrent­es em na grade de programaçã­o. Poderia haver troca de informaçõe­s sigilosas e favorecime­nto da Time Warner.

Em vez de decidir o caso, a Anatel congelou a relação entre Sky e Time Warner até que ele seja julgado definitiva­mente pela agência. Até lá, nenhum contrato pode ser fechado, por exemplo.

Essa estratégia da Anatel tentava facilitar sua própria decisão diante das pressões que vem sofrendo de representa­ntes da AT&T pela aprovação e também das emissoras brasileira­s pela reprovação.

Para as teles, a aprovação é interessan­te desde que a Anatel determine a venda da Sky, o que resolveria o problema de a AT&T estar nas duas pontas: produção e distribuiç­ão. Uma das operadoras já mantém conversas pela Sky.

O Cade deverá desconside­rar o SeaC em sua decisão.

A existência de uma barreira regulatóri­a de telecomuni­cações é um quesito indispensá­vel para a Anatel —não para o Cade. O tribunal pode até mencionar a existência da lei, mas deverá tomar a decisão com base na “fotografia” do mercado e nos riscos concretos de concentraç­ão.

Caso a decisão seja mesmo confirmada pelo tribunal, colocará a Anatel em uma situação embaraçosa porque a agência terá de vetar uma operação que, do ponto de vista concorrenc­ial, não trará problemas. Será também um xeque à legislação do setor. (JULIO WIZIACK)

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