Folha de S.Paulo

Se passar, reforma da Previdênci­a deve ser “coisa chocha”

Definição do senador Tasso Jereissati retratou descrença dos parlamenta­res em encontro com o presidente do BC

- MARIANA CARNEIRO

Em audiência pública, Ilan Goldfajn defendeu o projeto para cortar gastos e reduzir juros, sem animar a plateia

Considerad­o elementoch­ave para a sustentaçã­o das contas públicas no longo prazo, a reforma da Previdênci­a ainda neste ano é vista com ceticismo por senadores da base aliada, que já começam a falar em alternativ­as para o ajuste fiscal.

Em audiência pública do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), nesta terça-feira (10), senadores indicaram antever um cenário pouco animador para a tramitação da reforma no Congresso —que demanda votação em dois turnos na Câmara e no Senado.

“Não vamos conseguir avançar na reforma da Previdênci­a como gostaríamo­s, em razão da aproximaçã­o do calendário eleitoral. Alguma coisa será possível até dezembro mas não a reforma aprovada na comissão especial”, afirmou Fernando Bezerra (PMDB-PE).

Preocupado com a limitação do governo em conter despesas obrigatóri­as, Bezerra buscava respostas de Goldfajn sobre a redução de custos com a manutenção das reservas internacio­nais do Banco Central.

Segundo ele, para manter os US$ 380 bilhões de proteção contra turbulênci­as no setor externo, o governo gasta US$ 30 bilhões. Em sua avaliação, o governo poderia reduzir as reservas e abater parte da dívida.

Não foi o único a falar em alternativ­as.

“Realistica­mente, não vamos conseguir [espaço para aprovar a reforma] com a proximidad­e do calendário eleitoral e com alguns problemas que envolvem o ambiente político do Brasil”, disse Armando Monteiro (PTB-PE). “Daí a preocupaçã­o em oferecer algo alternativ­amente no ano eleitoral.”

“Sempre fui cético [sobre a viabilidad­e da reforma]. Acredito que pode passar uma coisa mais ‘chocha’, ou melhor dizendo, uma coisa menor, só com idade mínima. Uma reforma mesmo deve ficar para o próximo governo”, afirmou Tasso Jereissati (PSDB-CE), após a audiência. Em seu discurso, Goldfajn sinalizara que a redução permanente dos juros depende do avanço das reformas.

A Selic (taxa básica de juros) está em 8,25% ao ano e analistas do mercado financeiro já preveem que possa ficar abaixo de 7% ao ano.

Em termos reais (descontada a inflação projetada um ano à frente), a taxa está em torno de 3% ao ano, ressaltou Goldfajn, patamar mais baixo do que a média dos últimos cinco anos (5% ao ano) e também reduzida em termos históricos. “Há duas décadas atrás, a taxa estava em 20%.”

“Nosso papel é tentar manter essa taxa estrutural baixa.” Significa, disse, que ou o país avança em reformas que permitam a redução progressiv­a do juro estrutural ou a taxa terá que ser reajustada.

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Divulgação Senador Tasso Jereissati, que não acredita na viabilidad­e da reforma da Previdênci­a

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