Folha de S.Paulo

Brasil terá a 12ª maior dívida do mundo em 2022, segundo FMI

Rombo nas contas públicas vai representa­r em cinco anos 96,9% do PIB, ante 78,3% em 2016

- ISABEL FLECK ÁLVARO FAGUNDES

Organismo melhora a previsão de alta do PIB brasileiro neste ano, de 0,3% para 0,7%; para 2018, estima 1,5%

Em 2022, o Brasil terá a 12ª maior dívida do mundo, representa­ndo 96,9% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo previsão do FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) divulgada nesta terça (10). O valor absoluto estimado é de R$ 8,8 trilhões.

No ano passado, a dívida brasileira (na relação com o PIB) foi a 40ª maior do mundo (78,3%). Em abril, o FMI previa que o país teria a 19ª maior dívida global em 2022.

A piora do Brasil é reflexo da deterioraç­ão das contas públicas, com as receitas (em queda devido à recessão) não acompanhan­do o ritmo de cresciment­o das despesas.

O governo Michel Temer prevê que neste ano haverá um deficit primário de R$ 159 bilhões —quarto ano seguido de rombo nas contas públicas.

Pelas projeções do Fundo para 2022, à frente do Brasil estarão países ricos como Japão —no topo da lista, com dívida bruta de 233,9% do PIB— e EUA (109,6% do PIB), mas também Líbano, Eritreia e Cabo Verde.

A projeção para as grandes economias emergentes está bem abaixo do Brasil, com previsão, para 2022, de uma dívida chinesa equivalent­e a 62,2% do PIB do país, e, na Índia, de 59,6%.

Em 2017, a dívida já repre- senta 83,4% da renda brasileira, pelos cálculos do FMI. O número destoa do cálculo do Banco Central, para quem a dívida bruta do país vai chegar em 2017 a 76,2% do PIB.

A diferença se dá, em parte, porque, diferentem­ente do governo, o FMI inclui na dívida títulos do Tesouro que são negociados pelo Banco Central para regular a quantidade de dinheiro na economia.

Um dos principais critérios usados pelas agências globais de “rating” para avaliar a capacidade de solvência de um país é justamente a dívida bruta.

Um cálculo divulgado na segunda-feira (9) pela Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI), órgão do Senado que acompanha as contas públicas, é ainda mais pessimista, dizendo que a dívida bruta do governo pode superar os 100% do PIB já em 2020.

Para o governo Temer, a forma de evitar a dívida crescente é passar a reforma da Previdênci­a, para ajudar a segurar os gastos obrigatóri­os.

Aos jornalista­s, nesta terça, a chefe da Divisão de Estudos Econômicos Mundiais do FMI, Oya Celasun, disse que a reforma seria importante para ajudar o país a melhorar sua perspectiv­a fiscal.

“O teto de gastos aprovado no início do ano foi um passo bastante importante nesta direção. O próximo é aprovar a reforma da Previdênci­a em um tempo razoável, sem muitas diluições a partir do que foi proposto pelo governo”, disse Celasun. CRESCIMENT­O O FMI também divulgou, em seu relatório Panorama Econômico Global, nesta terça, um aumento na sua estimativa de cresciment­o do PIB do Brasil neste ano, de 0,3%, em julho, para 0,7%, com base nos bons resultados vistos no campo e na alta do consumo impulsiona­da pela liberação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

Para 2018, também houve um leve cresciment­o em relação aos dados divulgados em julho, de 1,3% para 1,5%.

A previsão para este ano (0,7%) casa com a de agentes do mercado reunidas pelo Banco Central no boletim Focus, que, no entanto, ainda está mais otimista que o FMI para o próximo ano, com estimativa de alta de 2,4%.

A aparente reticência do FMI sobre 2018 tem por base “a fraqueza contínua no investimen­to e o aumento da incerteza política”.

O relatório de abril foi publicado antes de estourar, no Brasil, o escândalo envolvendo Temer, que levou às denúncias de corrupção passiva, obstrução da Justiça e participaç­ão em organizaçã­o criminosa contra o presidente.

 ?? Andrew Caballero-Reynolds/AFP ?? Sede em Washington do FMI (Fundo Monetário Internacio­nal), que realiza sua reunião anual com o Banco Mundial
Andrew Caballero-Reynolds/AFP Sede em Washington do FMI (Fundo Monetário Internacio­nal), que realiza sua reunião anual com o Banco Mundial

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil