Folha de S.Paulo

Juros menores, antes do meteoro

- VINICIUS TORRES FREIRE

A TAXA real de juros de 2018 deve ficar no mesmo nível médio de 2012.

Ressalva pessimista. Deve ficar assim tão baixa caso: 1) Não haja revertério na finança mundial; 2) A política não frustre as previsões rosinhas e risonhas dos mercados.

Ressalva menos pessimista. A taxa média de 2012 baixou a cerca de 2,5% ao ano na marra, quando apareciam sinais de superaquec­imento da economia e a dívida das famílias crescia bem, entre outros problemas. Não ia durar, deu em besteira.

Agora, parece não ser o caso. Mas há outros problemas, que suscitam a mesma pergunta: quanto tempo vai durar esta temporada de juros mais baixos?

O país tem pouco mais de um ano para decidir o que fazer da vida. Entre 2019 e 2020, o teto de gastos do governo federal vai explodir ou cair.

No início do próximo governo, se nada mais mudar e dado o limite constituci­onal de aumento de despesas, não vai sobrar dinheiro para quase mais nada além de Previdênci­a, salários e o gasto mínimo em saúde e educação, e olhe lá. Isto é, ou se muda a Constituiç­ão para que se fure o teto ou haverá cortes horríficos de gastos. Lembranças do Rio de Janeiro.

Sem reforma da Previdênci­a e/ou aumento de impostos, a dívida federal continuará a crescer de modo preocupant­e.

O estouro do teto e o cresciment­o da bolha assassina da dívida então fariam com que os donos do dinheiro grosso, os credores do governo, cobrassem mais caro. É risco de alta de dólar, preços, juros. Um cresciment­o rápido da economia (4% ao ano) com inflação baixa poderia minorar o problema, mas não convém contar com milagres.

De modo suave, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, tratou de um pouco disso nesta terça, no Senado. Quem ouve? O país parece indiferent­e ao meteoro que se aproxima. O Congresso está parado por ordem de Michel Temer

Brasil terá a 12ª maior dívida do mundo em 2022, prevê FMI

e picuinhas de sua coalizão, todos envolvidos na votação da denúncia contra o presidente.

No mais, Goldfajn falou bem da política do BC, bidu, repetiu o que tem dito faz meses e que o ritmo de queda dos juros (Selic) não foi lerdo. Difícil concluir qualquer coisa agora sobre a lerdeza. O teste do pudim será comê-lo: só depois vamos saber se é ruim.

Ainda assim, os juros reais devem cair para algo em torno de 2,5% em 2018, dados preços e estimativa­s do mercado. Trata-se aqui dos juros no atacadão do mercado de dinheiro, os negócios entre bancos (taxas para um ano, descontada a inflação esperada). Mas mesmo as taxas teratológi­cas dos bancos passaram a cair de modo notável desde abril.

O pedaço da renda que as famílias gastam com juros e pagamento do principal da dívida baixou a níveis de 2011 e vai cair mais durante 2018, o que deve melhorar em mais um tanto a capacidade de consumo, como se escrevia em agosto nestas colunas.

Ou seja, será uma recuperaçã­o econômica raquítica, com investimen­to catatônico, pois as empresas estão ociosas e receosas, o investimen­to público “em obras” tende a zero e o governo não consegue tocar concessões de infraestru­tura em ritmo notável.

Em resumo, a recuperaçã­o está pendurada em instáveis taxas de juros, que vão balançar caso o meteorito das contas do governo caia sobre as nossas cabeças.

Dívidas e juros vão baixar a mínimas históricas e facilitar o cresciment­o em 2018. Depois, há risco sério

vinicius.torres@grupofolha.com.br

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