Folha de S.Paulo

Proposta da Oi para dívida não agrada governo Temer

- JULIO WIZIACK

A interferên­cia do presidente Michel Temer por uma saída para a crise da Oi pode terminar na intervençã­o da operadora, que está em recuperaçã­o judicial com uma dívida de R$ 64,5 bilhões.

Se isso ocorrer, abre-se caminho para que a China Telecom e o fundo americano TPG comprem a empresa. Os chineses e americanos estão há duas semanas verificand­o a situação da Oi.

Nesta terça-feira (10), ministros e representa­ntes de bancos públicos e da Anatel (Agência Nacional de Telecomuni­cações) se reuniram com a ministra Grace Mendonça (Advocacia-Geral da União) para definir um plano B. Temer pediu que a AGU trabalhe como mediadora, liderando as negociaçõe­s.

Pessoas que participam das conversas afirmam que o governo não concorda com que os bancos públicos e a Anatel sofram descontos nos valores que têm a receber.

Também consideram que a situação da operadora chegou a esse ponto porque os acionistas e os credores estrangeir­os não se entendem porque defendem interesses próprios em vez de buscarem a sobrevivên­cia da tele, maior concession­ária de telefonia do país.

Por isso, a equipe de trabalho considera, como antecipou a Folha, mudar a lei para permitir um parcelamen­to por vinte anos de cerca de R$ 20 bilhões em dívidas da Oi com o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES e Anatel. Só agência tem R$ 11 bilhões em créditos.

As diretrizes do plano de reestrutur­ação aprovadas pelo conselho da Oi nesta terça prevê descontos dos valores a serem pagos para os bancos públicos e para as multas da Anatel. O plano tem de ser votado na assembleia-geral de credores até 23 de outubro.

Com as negociaçõe­s conduzidas pela AGU, bancos públicos e Anatel receberão o valor integral de seus créditos porém parcelado por até vinte anos. Para isso, será preciso mudar a lei que hoje só permite o parcelamen­to por até cinco anos.

As pendências da Oi com os bancos públicos e a Anatel não podem ser parceladas pelo Refis. Juntos, eles têm R$ 20 bilhões para receber da empresa, dos quais R$ 11 bilhões são multas da Anatel.

Resolvido esse problema, a operadora terá de refazer o plano e aprová-lo no conselho de administra­ção, órgão que comanda a empresa e é controlado pelos maiores acionistas —o empresário Nelson Tanure e os representa­ntes da Pharol, ex-dona da Portugal Telecom.

Caso não haja consenso, a Anatel decretará a intervençã­o e enviará um plano que garanta a sobrevivên­cia financeira da Oi para a Justiça. OPERADOR FORTE Essa situação favorece a entrada dos chineses na empresa, outra preocupaçã­o da Anatel que, diante de uma intervençã­o, precisará de um operador forte para assumir a operadora sem compromete­r a prestação do serviço.

Juntos, os credores públicos podem vetar o plano de recuperaçã­o da Oi na assembleia-geral.

Caso seja preciso mais tempo para concluir esse acordo, a AGU poderá entrar com uma petição em nome dos credores públicos pedindo o adiamento da assembleia-geral de credores.

Já praticamen­te fora de consideraç­ão a transforma­ção de parte das dívidas da Oi com a Anatel em investimen­tos por meio de TACs (Termos de Ajustament­o de Conduta).

Isso porque a situação financeira da operadora não garantiria o cumpriment­o de investimen­tos adicionais definidos pelo TAC.

Se fechasse esse tipo de acordo com a Oi, a agência poderia colocar em descrédito os demais TACs.

As negociaçõe­s começam efetivamen­te na próxima reunião, marcada para segunda-feira (16). A situação preocupa porque Muitos órgãos públicos e bancos são dependente­s da tele. A intervençã­o pode colocar em risco serviços essenciais.

resultar na intervençã­o da tele, o que abriria caminho para entrada de americana ou chinesa

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Evaristo Sa - 4.out.2017/AFP O presidente Michel Temer, em evento em Brasília

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